18.7.08

Ciganos da Quinta da Fonte com casas destruídas vão viver para tendas guardadas pela polícia à entrada do bairro

Daniela Gouveia, in Jornal Público

Comunidade cigana dormiu esta noite ao relento em protesto contra decisão da Câmara de Loures

O minúsculo jardim frente à Câmara de Loures fez esta noite as vezes de dormitório para as famílias ciganas do bairro da Quinta da Fonte que até ontem estavam a viver no pavilhão de São João da Talha. Crianças, bebés de colo, idosos, todos dormiram ao relento, em protesto contra a decisão conhecida ontem de que vão ter de voltar para o bairro. Nove famílias, cujas casas foram vandalizadas nos confrontos da última semana, vão viver nos próximos dias em tendas guardadas pela polícia que a câmara vai montar à entrada do bairro. As restantes, 64 no total, vão voltar para as suas casas.

A reunião de ontem à tarde no Governo Civil de Lisboa acabou com as esperanças de quem ainda acreditava que iria viver noutra freguesia, ou até num parque de campismo. "Qualquer sí-tio que não seja a Quinta da Fonte, para lá nunca mais", dizia anteontem um grupo de mulheres no pavilhão. Mas ontem, ao início da tarde, câmara, Instituto de Segurança Social (ISS), ACIME, governadora civil de Lisboa e PSP de Loures decidiram que as 73 famílias abandonariam hoje o gimnodesportivo de São João da Talha em direcção à Quinta da Fonte. "Nem para o bairro, nem para o pavilhão, vamos comer e dormir aqui", diziam ontem um homem de 41 anos já depois de a decisão ser conhecida, sentado num dos bancos do jardim com vista para o edifício da autarquia. O presidente da câmara e o vereador da Habitação tinham saído dali minutos antes, mas para outra reunião "sobre o mesmo assunto", segundo o gabinete de comunicação da câmara. À hora do fecho desta edição não eram ainda conhecidos os resultados deste encontro. Cá fora, eram idosos e bebés deitados na relva, cartazes e bandeiras de Portugal e adolescentes que galgavam o monumento dos paços do concelho para gritar "queremos casas" e "não ao racismo".

No governo civil, decidiu-se que 36 das cerca de 200 pessoas que têm dormido entre balizas de futebol e mesas de pingue-pongue vão agora para tendas de campanha à entrada do bairro e poderão, até Setembro, voltar para as suas casas. Segundo o vereador da Habitação, João Pedro Domingos, tinham sido contabilizados 16 fogos vandalizados mas ontem, "após o cruzamento de dados, determinou-se que sete dessas casas já estavam referenciadas antes dos confrontos e algumas das famílias já nem habitavam no bairro". Estas nove famílias vão viver para "tendas de qualidade", garantiu o presidente do ISS, Edmundo Martinho. "A perspectiva é que as pessoas regressem para as suas casas ou para junto das suas casas, onde têm os seus bens." Também António Pinto Nunes, da Federação Cigana de Portugal, comentava que nunca tinha posto de parte que a decisão fosse esta, "porque sabia que o presidente da câmara não estava com muita vontade de resolver as coisas de outra maneira". Só não pensava que fosse "tão rápido".

Ao final da tarde, eram cerca de 60 as pessoas que se concentravam no jardim da câmara municipal. Num vaivém entre o pavilhão de São João da Talha e os paços do concelho, alguns carros carregados de colchões iam e vinham com mais gente.

Eram 73 famílias que até ontem estavam no pavilhão municipal .