25.7.08

Importações espanholas estão ao ritmo mais lento dos últimos 15 anos e vão penalizar economia portuguesa

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Perante os sinais claros de crise, o Governo espanhol viu-se obrigado a rever em baixa as suas previsões de crescimento económico

As compras realizadas no estrangeiro pela economia espanhola vão crescer este ano ao ritmo mais lento dos últimos quinze anos, um resultado previsto pelo próprio Governo e que constitui uma dificuldade adicional para as empresas exportadoras portuguesas que têm no país vizinho o seu principal cliente.

Ontem, o executivo espanhol anunciou a revisão das suas projecções. Face aos últimos indicadores conhecidos, poucos foram os que se surpreenderam com o assumir de um cenário bastante mais pessimista. Madrid passou a apontar para um crescimento de 1,6 por cento este ano e um por cento no próximo, quando nas anteriores projecções ainda apostava em variações do PIB de 2,3 por cento nos dois períodos. O ritmo de crescimento agora previsto é o mais lento desde 1993 e representa uma diferença considerável em relação ao que tem vindo a acontecer na última década, em que apenas num ano se registou uma variação do PIB inferior a três por cento. O ano passado, a economia cresceu 3,8 por cento.

O Governo admite também o agravamento do desemprego, tanto em 2008 como em 2009, o que foi confirmado hoje com o anúncio da subida deste indicador para 10,4 por cento no segundo trimestre deste ano.Portugal sofreA travagem espanhola faz-se sentir sobretudo ao nível do consumo e do investimento. Por isso, as importações abrandam de forma muito significativa: de um crescimento de 6,6 por cento em 2007 para 2,6 por cento em 2008 e 1,9 por cento em 2009. Uma travagem preocupante para Portugal, que tem em Espanha o principal cliente para as suas exportações. O país vizinho é o destino de quase um terço das vendas portuguesas ao estrangeiro e tem representado o maior contributo para as variações positivas das exportações nacionais. É necessário recuar até 1993 para encontrar um desempenho mais fraco das importações espanholas. Não é assim de espantar que também esse ano tenha sido o pior para as exportações portuguesas nas últimas três décadas.

Pedro Solbes, o vice-presidente do Governo espanhol, ainda tentou ontem puxar pelo optimismo, dizendo que a retoma vai chegar na segunda metade de 2009 e defendendo que a Espanha "está melhor preparada que as outras economias europeias". E a verdade é que no mesmo dia, os indicadores divulgados por toda a Europa deixaram claro que a Espanha está longe de ser o único problema. A confiança dos empresários continuou a cair na Alemanha, Itália e França; serviços e indústria voltaram a abrandar na Zona Euro e o comércio a retalho no Reino Unido caiu ao ritmo mais pronunciado desde, pelo menos, 1986.

Com a possibilidade de um segundo trimestre negativo cada vez mais forte, já há analistas a falar da hipótese de recessão. "Estes dados fazem aumentar esse risco", disse ontem um economista do ING Group.