31.7.08

Tempos de crise ou de oportunidades

in Diário de Notícias

O inquérito de conjuntura do INE revela que a confiança dos portugueses voltou a deteriorar-se em Julho. As empresas e os consumidores têm razão em estarem pessimistas relativamente ao futuro.

Os efeitos da crise nos resultados dos grandes bancos já estão à luz do dia. O BES, um dos esteios do nosso sistema financeiro, apresentou ontem uma quebra de 28% nos lucros do primeiro semestre. Vergada às pesadas menos-valias registadas nas suas participações financeiras, a Caixa Geral de Depósitos está na iminência de chamar o accionista Estado (ou seja, todos nós) a injectar-lhe dinheiro num aumento de capital. O BPI e o BCP, por sua vez, saíram exangues de um ano de luta sem quartel: o BPI teve de pela primeira vez assumir que perdeu dinheiro num trimestre; e as cotações do BCP despenharam-se para niveis que ninguém imaginaria no início do ano.

As empresas estão pessimistas e não investem porque o dinheiro está caro: nos últimos doze meses os juros das obrigações emitidas pelas empresas aumentaram 21%; e os consumidores estão pessimistas porque o dinheiro está caro: os juros em euros dos créditos à habitação nunca estiveram tão altos (Euribor acima dos 5%).Estes são os tempos que põem à prova a alma e o carácter dos homens. Assim quem tem o leme saiba convencer os protugueses que os chineses têm razão quando usam o mesmo ideograma para significar crise e oportunidade.

Os casos de violência doméstica que terminam em morte não param de aumentar em Portugal, seguindo uma tendência que se sente também em Espanha, França e Inglaterra. Este ano já morreram no nosso país 17 mulheres às mãos dos seus companheiros. Duas delas em quatro dias, ambas vítimas de crimes passionais de extraordinária violência: terça-feira na Maia, à porta de um café, um homem matou a namorada a tiros de caçadeira em frente à filha; sábado em Ponte de Sor outro tinha espancado até à morte a companheira.

Mais do que a um aumento de criminalidade, assiste-se a uma maior violência nos crimes. Ao ponto de vários países estarem a mudar a lei: em França as punições para os agressores tornaram-se mais pesadas, enquanto em Inglaterra se estuda a possibilidade de atenuar as penas das pessoas que matem os parceiros de quem sofreram actos de violência.Por cá, tudo está por fazer. Depois de uma experiência-piloto em Sintra, em que o PGR especializou uma equipa na investigação deste tipo de crimes, nada mais aconteceu. A avaliação acontece caso a caso, nos tribunais, ou seja, pelos juízes. Sem esquecer, claro, a ideia do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, que ia exactamente em sentido contrário ao que se passa no resto do mundo.