S.A., in Jornal Público
Os portugueses estão, neste momento, mais pessimistas em relação à evolução da economia e da sua situação financeira particular do que quando o país se encontrava em recessão há cerca de cinco anos atrás.
Os dados ontem revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) - e que são também utilizados pela Comissão Europeia para calcular os indicadores agregados da União - mostram que o indicador de confiança dos consumidores atingiu em Julho uma média dos últimos três meses de -47,2 pontos (o indicador vai de um mínimo de -100 pontos até a um máximo de 100 pontos). Este passa a ser o valor mais baixo de que há registo desde que começou a ser calculado em 1997, superando o anterior recorde negativo registado em Abril de 2003. Nessa altura, o país tinha acabado de saber que tinha entrado em recessão técnica (dois trimestres de variação negativa do PIB) no final de 2002. No próprio ano de 2003, o crescimento da economia foi negativo em 0,8 por cento e o desemprego cresceu de forma muito rápida.
O país enfrentava igualmente uma situação orçamental muito complicada, em que o Governo liderado por Durão Barroso precisava de subir a taxa máxima do IVA e de recorrer em grande escala a receitas extraordinárias para manter o défice público abaixo de três por cento do PIB.Agora, o cenário não é, à primeira vista, tão assustador. É verdade que, no primeiro trimestre deste ano, a economia se contraiu, não sendo possível excluir a possibilidade de, no segundo trimestre, se ter concretizado o cenário de recessão técnica. Mas para o total do ano a previsão mais pessimista, feita pelo FMI, aponta para um crescimento de 1,2 por cento.
O desemprego é agora mais elevado, mas já parou de crescer. E o défice público já está abaixo de três por cento do PIB, dando ao Governo a possibilidade de baixar a taxa de IVA em um ponto percentual.Sendo assim, o que leva a que os portugueses mostrem agora muito mais pessimismo, quando lhes perguntam, quer em relação aos últimos 12 meses, quer em relação aos próximos, o que pensam da evolução da economia e da situação financeira do seu agregado familiar?
As grandes diferenças, em relação ao que acontecia em 2003, parecem estar na situação internacional e na evolução dos preços e juros. O que se vai passar no resto do mundo dá agora lugar a muito mais incertezas, o que se pode reflectir num maior pessimismo para Portugal. E a subida dos preços dos combustíveis e alimentos, a par com o agravamento dos juros, está actualmente a penalizar de forma muito acentuada os orçamentos familiares dos portugueses.