Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias
Conjuntura. Consumo das famílias estagnouEconomia está em claro abrandamento pelo oitavo mês consecutivo
A economia portuguesa está em forte abrandamento, com o consumo das famílias estagnado e estas a contrair menos empréstimos à banca. As empresas estão também a pedir menos créditos e no segundo trimestre do ano os dados referentes ao investimento parecem confirmar as previsões de queda, anunciada esta semana pelo banco central, no boletim de Verão.
A actividade económica está em abrandamento pelo oitavo mês consecutivo. A economia - medida através de indicadores avançados para o PIB, que resumem o comportamento de vendas dos lojistas, produção industrial, enquadramento externo e quadro financeiro das famílias - terá crescido apenas 0,1% em Junho, em comparação com o mesmo mês do ano passado. O que representa a evolução mais baixa desde Novembro de 2003, quando o país estava mergulhado em recessão económica e está em linha com a revisão em baixa da economia, efectuada esta semana pelo Banco de Portugal.
Na quinta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) já revelava que o "estado de alma" dos consumidores estava no seu ponto mais baixo desde Maio de 2003. Ontem, na sua síntese mensal, o Banco de Portugal revela que o consumo estagnou em Junho face ao mesmo mês do ano passado. Por norma, estes indicadores são revistos em alta no mês seguinte, mas, para já, a evolução das compras das famílias só encontra pior desempenho em Novembro de 2003.
Os dados relativos ao défice externo, confirmam o agravamento das contas internacionais portuguesas nos primeiros meses do ano. Já esta semana o "descarrilamento" do "deve e haver" com o estrangeiro foi referida pelo banco central. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também "intimou" mesmo os portugueses - famílias, empresas e Estado - a poupar.
O défice externo aumentou 1,38 mil milhões de euros nos primeiros quatro meses do ano, uma expansão de 35%, face ao mesmo período do ano passado. Isto deve-se à deterioração do comércio externo português - com a factura dos combustíveis a sobressair - e à saída de capitais (rendimentos, salários, juros pagos por empréstimos) para o exterior, em linha com o maior endividamento das famílias e empresas.
Com menos rendimentos, mais desemprego e aumentos das taxas de juro e restrições aos empréstimos, impostas pelos bancos, as famílias - revela o Banco de Portugal - estão a ir cada vez menos aos bancos. Pelo menos para pedir mais empréstimos, em linha com os "desejos" do FMI.
Os montantes de créditos às empresas, já de si endividadas, estão, também a desacelerar: subiram 12,1%, um decréscimo de 1,2 pontos percentuais face a igual mês do ano passado.