25.7.08

Língua não garante a integração de comunidades lusófonas

Isadora Ataíde, in Diário de Notícias

Vilma Furtado, 26 anos, nasceu em Lisboa. Filha de pai cabo-verdiano e mãe são-tomense, diz estar em busca da sua "identidade cultural". A angolana Ludmila Gualdino, 22 anos, veio para Portugal na adolescência para estudar. Conta ter "sofrido" para se integrar, mas hoje afirma que Lisboa é a sua casa. Laura Pacheco, 26 anos, é carioca. Há ano e meio atravessou o Atlântico para estudar joalharia.

Gostou do país e promete ficar. Para além da língua portuguesa, as três jovens compartilham a opinião da insuficiência do idioma como factor de integração em Portugal para aqueles que fizeram do país a sua casa."Quando fui procurar o meu primeiro emprego a pessoa que entrevistou-me disse que a minha 'raça' tinha dificuldades para dominar a língua. Eu respondi que era portuguesa, que só raça apenas a humana e que havia terminado o 12.º ano com 17 pontos em Português. Em Portugal os cabo-verdianos, nascidos ou de segunda geração, têm muitas dificuldades, a maioria trabalha como empregado de mesa", observa Vilma.

Ludmila começa em Setembro o curso superior em Gestão de Recursos Humanos. Apesar de os pais, que vivem em Luanda, a ajudarem com as finanças, ela trabalha como operadora de telemarketing. "Noutro dia uma cliente insatisfeita perguntou o meu nome e depois disse que um atendimento daquele género só poderia ser feito por uma 'preta'. Isso é preconceito, fiquei muito maldisposta", relembra a jovem.

Depois de viver seis meses com o dinheiro que trouxe do Brasil, Laura teve de encontrar emprego no comércio para custear a formação em joalharia. "O meu visto é de estudante, o que a rigor me impede de trabalhar, por isso não consigo contrato. Mas sem contrato não consigo um visto de trabalho. Demorei seis meses para renovar o meu visto, creio que os portugueses estão a fechar as portas para os imigrantes, pois já há muita gente no país."

Para além dos sotaques diversos, as raparigas circulam em espaços diferentes, escutam a música do seu país, namoram conterrâneos e na culinária privilegiam o cardápio da terra natal. "Os negros juntam-se logo, a nossa afinidade é natural", argumenta Vilma. Laura também não fez amigos portugueses. "

Os portugueses são muito fechados, é mais difícil criar intimidade. Os amigos são os do trabalho, todos brasileiros, com quem me reúno e passeio." Ludmila pondera sobre a importância dos que emigram fazerem um "esforço" para se adaptar ao novo lar. "Quando se troca de país, cabe a nós próprios adaptar-se. Tenho amigos de todos os tipos, portugueses, brasileiros e cabo-verdianos. Oiço música angolana e a batida portuguesa, como bacalhau e muamba de galinha. Os meus namorados é que sempre foram angolanos."