Vítor Costa, in Jornal Público
Fundo Monetário Internacional alerta para um aumento da pressão sobre a banca à medida que o preço das casas deixa de aumentar
A crise financeira internacional continua sem fim à vista e o agravar das condições de crédito para os bancos e para os consumidores poderá significar um período de abrandamento económico ainda longo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Na actualização do relatório sobre a estabilidade financeira divulgado ontem, a instituição com sede em Washington deixa vários alertas e afasta a hipótese de que a fase mais negativa da actual crise já possa ter passado. Sem conseguir antever um ponto final no actual momento recessivo do mercado imobiliário nos Estados Unidos (EUA) e com o agravar do mesmo problema na Europa, designadamente na Irlanda, Reino Unido e Espanha, o Fundo adverte que a consequente quebra no crescimento do preço das casas vai colocar mais pressão sobre o sistema bancário. Até porque, sublinha o Fundo, para além do efeito do colapso das hipotecas de alto risco, o sistema financeiro sofre agora um outro problema que diz respeito ao risco de incumprimento nos outros tipos de crédito, que não o crédito de alto risco (subprime). A baixa do valor dos imóveis e o arrefecimento da economia são os dois motivos apontados para o risco de extensão dos incumprimentos ao resto dos empréstimos bancários.
Ainda assim, o FMI reconhece que, face à crise de crédito com origem nos EUA, as instituições financeiras em todo o mundo já abateram cerca 469 mil milhões de dólares (perto de 300 mil milhões de euros) de perdas às suas contas. Um valor expressivo, mas que fica longe dos 945 mil milhões de dólares (600 mil milhões de euros) de perdas que o Fundo estimou em Abril que a banca seria obrigada a abater. Por outro lado, as mesmas instituições só conseguiram financiar-se em cerca de 345 mil milhões de dólares. É com base neste cenário que o Fundo reconhece que "os mercados financeiros mundiais continuam frágeis" e que os "indicadores de riscos sistémicos são ainda elevados".
Com o sistema financeiro pressionado e em dificuldades para se financiar, as taxas de juro a que os bancos emprestam dinheiro uns aos outros continuam elevadas. Consequentemente, a concessão de crédito às empresas e particulares também se faz a taxas mais elevadas. Ou seja, "conduzindo a um círculo vicioso entre o sistema financeiro e a economia", sublinhou hoje Jaime Caruana, o responsável do sector financeiro do FMI, citado por agências internacionais.
Esta situação é ainda agravada, segundo o FMI, pelo facto de os bancos centrais se encontrarem de "mãos atadas" para poderem estimular a economia. As pressões inflacionistas que se fazem sentir impedem as autoridades monetárias de baixar taxas de juro e assim estimular a economia. Ora, com uma maior deterioração da actividade económica, voltam a crescer as dificuldades para as instituições financeiras, correndo-se o risco de uma espiral recessiva. *com agências
Alemanha
A confiança dos consumidores caiu para o mínimo dos últimos cinco anos, segundo uma análise da empresa de research Gfk. O resultado ficou abaixo das previsões dos analistas.
Estados Unidos
A Casa Branca reviu em alta para um recorde de 311,2 mil milhões de euros a previsão de défice para o ano fiscal que começa em Outubro, ultrapassando o défice previsto pelo Presidente Bush em Fevereiro.
Espanha
O vice-presidente do Governo e ministro da Economia, Pedro Solbes, reconheceu ontem que, em 2008 e 2009, a economia espanhola registará défice. Solbes destacou que 2009 será o ano em que a economia baterá no fundo para, depois, recuperar em 2010.
É preciso dominar a indústria financeira", afirma George Soros
O multimilionário George Soros não tem dúvida em afirmar que "uma indústria financeira à solta e perturbada está claramente a destruir a economia". Para o investidor financeiro, esta tem de ser dominada e "regulada, de forma a evitar excessos".
No seu livro O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros, editado esta semana em Portugal, defende que é falso e enganador o paradigma vigente onde se defende que os mercados financeiros tendem para o equilíbrio. P
ara o magnata, chegámos ao fim de uma era de estabilidade relativa, tendo os EUA como poder dominante e o dólar como principal moeda de reserva internacional. Uma lição importante da crise, diz, é que "as autoridades monetárias têm de se preocupar não só com o controlo do fornecimento do dinheiro, mas também com a criação de crédito. O monetarismo é uma doutrina falsa". Defendendo que os excessos foram muito suportados pela ausência de controlo adequado dos reguladores, não deixa, no entanto, de sublinhar que "regulamentos em excesso podem dificultar severamente a actividade económica".
Seja como for, afirma que, gostem ou não, "as instituições responsáveis pela criação de crédito têm de aceitar o facto de estarem a ser protegidas pelas autoridades e, por isso, têm de pagar um preço". Sobre o futuro, este parece ser uma mistura de negativo com indefinição: "Prevejo um período de instabilidade política e financeira, a que espero que se siga o surgimento de uma nova ordem mundial", diz. L.V.