21.7.08

A 'vida' cos empregados do Colombo

Isadora Ataíde (Texto) Rodrigo Cabrita (Foto), in Diário de Notícias

Tabalho. São mais de cinco mil os funcionários do comércio existente no mais simbólico centro comercial do País. Trabalham por turnos, recebem no máximo 500 euros por mês, têm pouco tempo para estudar e acabam por fazer do Colombo a sua casa. Passam lá o dia, fazem lá todas as compras. Uma relação de dependência e de 'amor-ódio'Funcionário recebe entre SMN e 500 eurosSão dez horas da noite de domingo. Rita, Manuela, Inês e Carlos, vendedores no Centro Comercial Colombo, fazem uma pausa para o cigarro. Estão no cais, uma área ao ar livre utilizada para recepção e entrega de mercadorias. O horário e o tempo que o Colombo permanece aberto é o tema da conversa. "Podia fechar às onze, não há movimento", diz Rita. Inês discorda. "Os horários das pessoas só permitem fazer compras à noite e aos fins de semana".

Para Manuela o centro deve encerrar as portas às dez e aos domingos. Carlos, empregado numa loja de material desportivo, faz eco. "Os clientes acostumam-se com o que é oferecido, se abrirmos até às quatro horas da manhã teremos pessoas a fazer compras". O cigarro acabou e eles têm de voltar para os clientes. Antes de partirem concordam em conversar com o DN sobre suas rotinas no Colombo. São unânimes em condicionar a conversa ao anonimato.

O que é preciso para encontrar trabalho num centro comercial? "É fácil, basta entregar o currículo. O que importa é a aparência, a inteligência não conta", diz Manuela, 20 anos, que trabalha numa loja de roupa íntima. Para atender os requisitos de aparência, Inês passou a alisar os cabelos todas as manhãs, fazer as unhas e arranjar as sobrancelhas uma vez por semana. "Gasto cerca de 60 euros por mês no salão de beleza". As fardas ajudam a compor a 'aparência' exigida pelas lojas. São responsabilidade do empregador, que na maioria dos estabelecimentos cede a roupa, mas não os sapatos. Saia e top são as peças do vestuário de Manuela, o que a obriga a usar collants. "Recebo 12 collants para seis meses. Mas gasto um por semana, que custa 1,95 euros".

Além de vender, ir ao banco, controlar o stock e fazer a limpeza da loja também figuram no quotidiano dos vendedores. "Temos de limpar a loja depois do fecho. Imagino que seja um custo muito alto para o empregador", ironiza Rita."Máquina de fazer dinheiro"

Se conseguir emprego é fácil, difícil é encontrar tempo para outras actividades. Os horários dos trabalhadores são rotativos. Numa semana pode entrar-se às 10.00 e sair às 19.00. Noutras, o horário é das 12.00 às 21.00 ou ainda das 15.00 horas às 24.00. "Entre sair de casa para trabalhar e chegar para o descanso passam-se 11 horas", diz Manuela. Com o part-time, Catarina pode terminar o 12º ano. Agora, com horários a rodar, não sabe como desdobrar-se para estudar línguas. Tornar-se hospedeira de bordo é o sonho de Sofia. Porém, há obstáculos: "Tenho de terminar o 12º ano, concorrer a uma vaga na TAP e fazer o curso. Não sei se consigo estudar e trabalhar". Ganhar mais e ter horários fixos é o que Inês precisa para formar-se como assistente social. "Não tenho tempo para estudar, logo, não posso progredir, aqui não se aprende nada. A empresa está a marimbar-se se eu quero estudar ou não, sou uma máquina de fazer dinheiro", critica.

O salário base dos empregados de balcão do Colombo varia entre o mínimo nacional e os 500 euros. As comissões oscilam entre os 10% e os 30%. "Passo muitas horas por dia dentro do Colombo, acabo por utilizar todos os serviços, como banco e supermercado, a minha vida é o Colombo", desabafa Carlos.