21.7.08

A falência dos bairros sociais

Leonor Paiva Watson, in Jornal de Notícias

Os confrontos na Quinta da Fonte esta semana levantaram a questão: o que fazer com os bairros?

Quinta da Fonte. Na semana passada o país conviveu com os confrontos entre dois grupos rivais no bairro social Quinta da Fonte, em Loures. A contenda envolveu a vandalização de casas e tiros, muitos tiros.

Alguém filmou e depressa o conflito abriu noticiários nacionais. Uma das frases que ficou no ouvido foi: "para cada cigano há quatro pretos, eles matam-nos a todos em 20 minutos". E para o país este passou a ser um problema entre etnias, ou seja, entre grupos distintos, cada um com as suas idiossincrasias.

Mas poderemos nós reduzir a questão a isto? Independentemente da etnia, se juntarmos muita gente num espaço exíguo, onde a frustração por metro quadrado é mais do que muita, que resultado será o mais provável de obter?

Quando falham os mecanismos integradores, o que temos? Mais concretamente, quando falha o trabalho, um dos principais motores de inserção, o que podemos esperar? Quando não se pode ser útil na economia formal - que no Ocidente deslocaliza a mão-de-obra - que papel passam a desempenhar as economias "informais"?

Talvez possamos dizer com alguma certeza que os bairros sociais, aglomerados de pessoas com muito poucas qualificações - a título de exemplo, na Quinta da Fonte habitam quase mil pessoas e 90% recebe o Rendimento Social de Inserção -, são o corolário de uma progressiva desindustrialização, automação, terciarização.

Mas deverão ser tratados como o excedente, os supra-numerários, os indesejáveis, o enclave num Estado de direito? E por que razão fica esse Estado à porta deste enclave? Que consequências?