16.7.08

Famílias a pedir casa duplicaram

Ana Mafalda Inácio, in Diário de Notícias

Loures. Famílias continuam no pavilhão de São João da Talha. E dizem que não voltam à Quinta da Fonte. A autarquia assegura que terão de o fazer. No Porto, teme-se cenas como as do bairro de Loures


Os 30 agregados familiares passaram para 64

O número de famílias de etnia cigana que ontem compareceu no Pavilhão José Gouveia, em São João da Talha, Loures, a solicitar apoio para obras em casa, - supostamente por que estas teriam sido vandalizadas na Quinta da Fonte após os tiroteios dos últimos dias -, ultrapassou e muito o que foi referido pela comunidade, nas reuniões de segunda-feira, com a autarquia e o Governo. De acordo com dados do pelouro da Habitação, os técnicos camarários registaram 64 pedidos de agregados familiares, em vez dos 30 que foram referenciados e que estão alojados no espaço cedido pela câmara até ser encontrada uma solução de realojamento para o período de obras.

A autarquia irá agora analisar todos os casos, tentando acautelar algum oportunismo. Aliás, alojadas no pavilhão, desde segunda-feira, estão apenas cerca de 140 pessoas, das quais 60 a 70 são crianças, pertencentes a 30 famílias. "O resto das famílias que pediram apoio não estão a pernoitar em São João da Talha. Já detectámos situações de pessoas que entregaram à autarquia as chaves das habitações na Quinta da Fonte há mais de um mês e que agora regressaram para ter apoio", justificou o vereador da Habitação, João Pedro Domingues. A câmara disponibilizou o pavilhão para acolher 53 famílias que solicitaram apoio, logo na segunda-feira. Mas destas apenas 30 tinham casas vandalizadas, as restantes, mais tarde ou mais cedo, teriam que "perder o receio" e voltar às habitações. Relativamente aos 30 agregados familiares, a autarquia comprometeu-se a custear as obras de recuperação das habitações e arranjar, juntamente com a Segurança Social, uma solução provisória de realojamento durante o período que aquelas vão durar.

Subsídio para pagar pensões

João Pedro Domingues esteve ontem de manhã em São João da Talha com o presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, para começarem a tratar do realojamento. Uma das hipóteses que está a ser equacionada é a atribuição de um subsídio pela Segurança Social para as famílias pagarem o alojamento em pensões. Outra hipótese é a de alguns agregados serem realojados em casas devolutas. Quanto ao custo das obras, só hoje é que técnicos municipais irão à Quinta da Fonte para fazer o levantamento das obras necessárias nos 30 fogos vandalizados. "Só depois lançaremos concurso para a realização destas. Ainda não sabemos o montante, mas certamente será avultado", explicou o autarca. É que algumas das casas "estão sem portas, janelas e até sem canos de água ou fios de electricidade", relataram ao DN. Na autarquia não foi apresentada qualquer queixa formal de vandalismo em habitações, aquilo que se sabe é que "algumas famílias deixaram o bairro e as casas foram destruídas, por quem não fazemos ideia", argumentou o autarca. A governadora civil Dalila Araújo espera que os ânimos acalmem para se reunir com as famílias de etnia cigana, já que estas não estiveram presentes na segunda-feira, mas uma coisa é certa: "Todos terão que voltar ao bairro."