16.7.08

Cinco sinais de crise na economia portuguesa

in Jornal Público

Défice externo
Menos exportações, maior factura energética, mais juros para pagar ao estrangeiro: tudo combinado, o défice das balanças corrente e de capital vai atingir o valor mais alto desde, pelo menos, 1995. Supera-se, neste período, pela primeira vez a barreira dos 10 por cento do PIB, um sinal claro de que o modelo de crescimento português, mesmo com o conforto do euro, já se está a tornar insustentável.

Consumo
Os portugueses continuam a fazer aumentar o seu consumo mais do que aumenta o seu rendimento disponível, o que significa que poupam cada vez menos. O problema, para este ano e o próximo, é que o rendimento disponível vai crescer em termos reais ainda menos do que o tem feito nos anos recentes, afectado pela subida da inflação e pela moderação no crescimento dos salários. Além disso, a poupança forçada, constituída pela amortização dos empréstimos assumidos, tende a aumentar. A solução, neste cenário, será, claro, travar o crescimento do consumo. É por isso que em 2009 a variação deste indicador não ultrapassará os 0,7 por cento. Durante a última década, apenas em 2003 se registou um valor mais baixo.

Investimento
Era a grande esperança do Governo para a manutenção da tendência de retoma, mas pelos vistos pode vir a tornar-se na grande desilusão. As empresas não vão resistir à crise de confiança, quebra do consumo e aumento dos custos de financiamento e vão voltar a abrandar o ritmo a que investem. Segundo o Banco de Portugal, "as indicações para o primeiro semestre de 2008 apontam para que tenha ocorrido uma desaceleração do investimento empresarial, que contrasta com o perfil de aceleração registado no ano anterior". O investimento em habitação vai mesmo cair 1,2 por cento em 2008, depois da ligeira recuperação de 2008. Em relação ao investimento público, o que menos pesa nas contas totais, o Banco de Portugal assume uma estabilização do nível em termos reais. Feitas as contas, depois da subida de 3,2 por cento em 2007, não se conseguirá mais do que um por cento em 2008 e 1,2 por cento em 2009.

Inflação
A taxa de inflação vai continuar a estar no centro das preocupações dos portugueses pelo menos até ao final deste ano. O Banco de Portugal prevê que, em 2008, este indicador se cifre em três por cento, um valor que, apesar de poder ficar abaixo da média europeia, supera largamente as previsões iniciais. Antes do ano começar, o Governo apostava numa taxa de 2,1 por cento e foi neste valor que baseou a sua proposta de actualizações salariais para a função pública. O Banco de Portugal assinala que "o perfil projectado para a inflação é essencialmente determinado pela evolução da componente energética". Para 2009, prevê-se agora uma redução para 2,5 por cento, que tem implícita, naturalmente, um abrandamento da subida dos preços dos combustíveis. Os valor estimados pelo Banco de Portugal partem ainda do princípio, por mera hipótese técnica, que a descida da taxa máxima do IVA de 21 para 20 por cento, será totalmente reflectida nos preços que chegam aos consumidores.

Exportações
Era inevitável. Com a economia mundial a abrandar, as vendas das empresas portuguesas para o estrangeiro vão ter de apresentar taxas de crescimento bastante mais moderadas em 2008 e 2009. Depois de em 2007, terem crescido 7,7 por cento, apenas irão registar uma variação de 4,4 por cento em 2008 e de quatro por cento em 2009. Como afirma o Banco de Portugal, "um abrandamento mais pronunciado da procura externa, determinado por um menor crescimento da actividade económica mundial e, em particular, nos principais países de destino das exportações portuguesas, determinará um menor crescimento das exportações portuguesas". Claro que se Portugal conseguisse, de forma significativa, aumentar a sua quota de mercado internacional, os problemas da conjuntura internacional poderiam ser minimizados. Mas a verdade é que o Banco de Portugal apenas aponta para, tal como tem acontecido nos últimos anos, ganhos muito moderados de quota. E avisa que a situação no principal cliente, a Espanha, constitui um dos principais riscos para o cenário apresentado. S.A.