17.7.08

Inflação não dá tréguas e atinge máximos

Lucília Tiago, in Jornal de Notícias

Eurostat confirma 4,0% na zona euro e nos EUA preços sobem para valor mais alto desde 2005

Um pouco por todo o lado, o preço dos combustíveis e dos bens alimentares está a impulsionar a inflação para níveis recordes. Nos EUA, os preços subiram 5,0% - o maior valor desde 2005 - e na zona Euro confirmam-se os 4%.

Aos impostos que já pagam habitualmente, os consumidores europeus e norte-americanos vêem agora somar-se um novo, que chega sob a forma da inflação e que tem a desvantagem de não parar de subir de mês para mês. Ontem o Eurostat confirmou que em Junho os preços subiram 4,0% na Zona Euro e 4,3% no conjunto da União Europeia. Nos EUA, o Departamento Laboral adiantou que a inflação "pulou" para os 5%.

Como o agravamento dos preços é sobretudo condicionado pelos bens alimentares e combustíveis, são as pessoas de rendimentos mais baixos as mais penalizadas. As contas são fáceis de fazer: mês após mês uma cada vez maior parcela do ordenado é gasta na compra de comida, porque os "malabarismos" (optar por produtos mais económicos) têm limitações.

Os valores definitivos do gabinete de estatística europeu mostram que a inflação subiu de 3,7% em Maio para 4% em Junho. Para esta subida contribuíram decisivamente os aumentos de 6,4% dos preços da alimentação e de 7,1% dos transportes. No conjunto da zona Euro, apenas as comunicações desceram - num comportamento idêntico ao que sucedeu em Portugal. Se do índice de preços se excluírem os bens alimentares, as bebidas e tabaco e os transportes, a inflação seria de apenas 1,8% - abaixo dos 2% da "meta" almejada pelo Banco Central Europeu.
Entre os vários países da moeda única, Portugal tem a segunda taxa de inflação mais baixa, a par da Alemanha (ambos com 3,4%), sendo apenas "batido" pela Holanda (com 2,3%). Na zona Euro há, no entanto, um conjunto de países - Espanha, Chipre, Luxemburgo, Bélgica e Eslovénia -com uma inflação acima dos 5%. Para o conjunto da UE, o agravamento dos preços foi de 4,3%, com países como a Bulgária e a Letónia a registarem subidas de 14,7% e 17,5%, respectivamente. Apesar de apresentarem valores bastante mais baixos, a Alemanha e a França tiveram em Junho as taxas de inflação mais elevadas dos últimos 12 anos.

O comportamento dos preços e o seu impacto nos orçamentos familiares têm feito, por cá, subir o tom das reivindicações de aumentos salariais intercalares como forma de compensação. Os valores divulgados pelo Eurostat e a revisão em alta da previsão de inflação pelo Banco de Portugal (que espera agora para o conjunto do ano uma subida de preços de 3,0%), levaram a CGTP a insistir ontem tem com a necessidade de as pensões e salários ter um novo aumento ainda este ano.

Recusando que um aumento intercalar pode provocar uma espiral inflacionista, a central sindical sublinha que este serviria para ajudar as famílias a fazer face à subida das taxas de juro. Mas a hipótese de um aumento intercalar foi já criticada por Vítor Constâncio, com o argumento de que apenas agravaria os preços, e José Sócrates além de recusar mexidas nos salários e pensões da função pública, acrescentou ainda que isso apenas iria prejudicar ainda mais os que têm rendimentos mais baixos, pela espiral de subida de inflação que originaria.

Do outro lado do Atlântico a evolução dos preços é também negativa e está acima do que esperavam os analistas. A braços com a crise do imobiliário (que provocou uma forte desvalorização dos seus imóveis), as famílias norte-americanas vêem-se confrontadas com a subida da inflação, o que está a provocar um abrandamento do consumo privado. Com isto acentuam-se ainda mais os riscos de, no seu conjunto, a economia dos EUA abrandar ainda mais, o que se traduz numa má notícias para o resto do mundo.