Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Produtos alimentares e transportes responsáveis pelasubida dos preços, que se agravaram 3,4% em Junho
A inflação manteve em Junho a trajectória de subida, atingindo um aumento de 3,4% face ao mesmo mês de 2007. A alimentação e os transportes são os principais impulsionadores deste agravamento dos preços.
Os valores da inflação de Junho medidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e ontem divulgados, vieram confirmar aquilo que os portugueses já tinham sentido na carteira: que os preços não param de aumentar, principalmente os dos produtos mais essenciais e de difícil substituição. Esta característica faz com que sejam as famílias de menores rendimentos as que acabam por ser mais penalizadas por este agravamento do custo de vida.
Em termos homólogos a inflação subiu 3,4% em Junho, registando um agravamento de 0,6 pontos percentuais face a Maio. O pão e os cereais, carne, peixe, óleos e gorduras, frutas e cafés foram os produtos alimentares cujo preço mais subiu no mês passado face ao mês anterior. O INE apenas registou um (muito) ligeiro desagravamento mensal no preço do leite, queijo e ovos e dos produtos hortícolas.
No seu conjunto, a taxa de variação homóloga do índice de preços do cabaz dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas subiu em Junho para 5,8%, quando em Maio tinha sido de 3,9%. A inflação associada a este género de produtos - comum a toda a zona do euro - é em parte justificado pela escalada do preço dos combustíveis e acaba por agravar as dificuldades que sentem muitas famílias, especialmente as que têm também já de fazer face às constantes subidas das taxas de juro dos empréstimos.
Toda esta questão se torna ainda mais relevante se se tiver em conta que em média, cada agregado familiar tem de reservar uma boa parte do seu rendimento mesal (15,5% em 2006) para a aquisição de comida e bebidas não alcoólicas e perto de 27% para a casa e as contas da água, electricidade e gás. Além destes dois tipos de despesa, há um outro que absorve uma fatia considerável (12,9%) dos salários: os transportes.
Mais uma vez, a realidade das despesas choca com a inflação. É que, segundo os dados ontem divulgados pelo INE, os preços com os transportes foram os que mais se agravarem em Junho, logo seguir aos dos bens alimentares. A taxa de variação homóloga dos preços com transportes foi em Junho de 3,4%, contra os 2,6% contabilizados em Maio.
Entre as várias categorias de produtos considerados para a evolução da inflação, apenas as comunicações registaram uma variação negativa. Em termos mensais, em Junho, observou-se alguma descida nos preços do vestuário e calçado - devido às promoções que muitas lojas começaram a fazer para antecipar a época dos saldos - mas esta não foi suficiente para compensar os agravamentos registados nos produtos mais essenciais.
Com a subida da inflação têm também subido de tom as exigências por parte dos sindicatos da função pública para que o Governo proceda a um aumento intercalar, com a Frente Comum a reivindicar 1%. Os funcionários públicos tiveram este ano uma aumento salarial de 2,1%, equivalente à previsão de inflação inscrita no Orçamento do Estado. Mais recentemente, o Executivo reviu em alta, para 2,6%, esta sua previsão. Este movimento de revisão em alta da inflação deve também ser hoje acompanhado pelo Banco de Portugal no seu Boletim Económico de Verão.