3.6.08

Mais ricos ganham sete vezes mais do que os pobres

Gonçalo Venâncio, in Diário Económico

Eurostat mostra que 18% dos portugueses estão em risco de pobreza.


Sete vezes mais. É quanto os 20% de portugueses mais ricos ganham, em média, comparativamente com os 20% mais pobres. Não espanta que Portugal seja um dos países mais desiguais da Europa. E também um dos mais “estranhos”. “As pessoas são muito pobres mas depois têm imensos activos”, salienta Nogueira Leite quando confrontado com os números ontem publicados pelo “Eurostat Yearbook 2008”. No relatório pode ler-se que 72,9% dos portugueses têm casa própria e que o gasto em restauração e hotelaria consome perto de 10% dos rendimentos das famílias nacionais. Para Nogueira Leite a contradição é “evidente”.

Já Pedro Adão e Silva admite que os dados sobre a desigualdade mostram que a “prioridade não deve ser a consolidação orçamental e o emprego”. Para o sociólogo estes devem ser apenas “meios para combater um padrão de desigualdades que não tem paralelo no panorama europeu.”

Mais de 18% dos portugueses estão em risco de pobreza - a média europeia a 25 fica nos 15% - e, segundo o Eurostat, idosos, mães solteiras com crianças dependentes e casais com três ou mais filhos dependentes, são os grupos de maior risco.

Números que não surpreendem Isabel Jonet, do Banco Alimentar contra a Fome. “Julgo que, dentro desse grupo, há muitas pessoas em risco severo de pobreza”.

Ainda assim, deve reconhecer-se que “Portugal tem tido algum sucesso no combate à pobreza” através de instrumentos como o complemento solidário para idosos, o rendimento social de inserção e o salário mínimo, refere Pedro Adão e Silva. Ainda assim, na opinião do sociólogo, o país não tem sido capaz de alterar o conjunto de desigualdades por força dos “salários baixos”.

Para Nogueira Leite, os 18% de portugueses em risco de pobreza justificam-se com uma “má performance da economia” e com a euforia dos anos 90. “As pessoas viveram acima das suas possibilidades. Agora é a ressaca”.

E é no capítulo dedicado à “Economia” que se percebe que se um dia o sonho dos decisores políticos era “chegar ao pelotão da frente”, hoje só podem pensar em “jogar” para não descer de divisão.

Em 2006, o PIB português em paridade de poder de compra cifrou-se nos 17.700 euros, ou seja, 74% da média europeia. Uma percentagem que atinge o valor mais baixo desde 1997.

Mas nem o arrefecimento económico abrandou o ritmo demográfico. Em 2007 a população ficou pelos 10,6 milhões e em 2015 seremos 10,8 milhões.


Pedro Adão e Silva, Sociólogo
“Os dados lembram que a prioridade não deve ser o emprego e a consolidação orçamental, mas sim um padrão de desigualdade que não tem paralelo no panorama europeu. O emprego e a consolidação orçamental devem reduzir as desigualdades.”

Isabel Jonet, Banco Alimentar contra a Fome
A percentagem de pessoas em risco de pobreza “não surpreendem quem lida com esta realidade todos os dias”. Isabel Jonet acredita que dentro destes 18%, há muitos em “risco severo de pobreza”. Os idosos são o grupo mais vulnerável.

António Nogueira Leite, Economista
“São notórias as desigualdades mas os dados têm de ser lidos com atenção”. O economista chama a atenção para as contradições entre os números da pobreza e a elevada percentagem de portugueses com primeira e segunda habitação.

País em números

- A transferências sociais são “mais baixas e menos eficazes” do que as transferências executadas pelos parceiros europeus.

- Na UE, em 2005, as transferências reduziram o risco de pobreza de 26 para 16%. Em Portugal, no mesmo período, a diminuição do risco passou de 26 para 19%, antes e depois das transferências respectivamente.

- Em 2050 a população portuguesa com 15 anos ou menos anos será 13,1% e a população com 65 anos ou mais, 31,9%.

- As mulheres têm filhos cada vez mais tarde. A média de idades na primeira gravidez foi de 29,3 anos em 2005, contra 28 anos em 1995.

- 72,9% dos portugueses tem casa própria e 27,1% habitação alugada.

- O gasto das famílias portugueses ultrapassa os 10% em hotelaria