Patrícia Jesustiago Melo, in Diário de Notícias
Estudo. Entre 1995 e 2000, 47% das famílias passaram por dificuldades
Cerca de 60% das pessoas com mais de 75 anos são pobres
Entre 1995 e 2000, 47% das famílias portuguesas passaram pela pobreza, em pelo menos um dos seis anos. Quer isto dizer que cerca de metade dos agregados nacionais vivem numa situação vulnerável à pobreza. A conclusão é do estudo "Um olhar sobre a Pobreza", publicado em livro e apresentado ontem no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa. O coordenador da investigação, Alfredo Bruto da Costa, salientou que este indicador mostra que a pobreza em Portugal é mais extensa do que reflectem as taxas anuais, que rondam os 18%, e só apanham metade do fenómeno.
Por outro lado, realçou o carácter persistente da pobreza - mais de metade das famílias que passaram dificuldades, estiveram nessa situação durante três ou mais anos, e 6,5% durante todo o período estudado. Para Alfredo Bruto da Costa, estes dados mostram que os pobres não são sempre os mesmos, mas que o fenómeno se mantém, "uma distinção fundamental para compreender a pobreza em Portugal", diz.
Pobres trabalham
Uma conclusão surpreendente deste estudo, como realçou Manuela Silva, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, é que mais de metade das famílias que passaram por situações de pobreza têm como principal fonte de rendimento o trabalho. Ou seja, conclui o estudo, a precariedade coloca os trabalhadores em situações de grande vulnerabilidade, mas os baixos salários são a principal causa de pobreza. Manuela Silva referiu mesmo a necessidade de criar um Fundo de Compensação Salarial, criado com rendimentos retirados das remunerações mais elevadas, para compensar os baixos salários. Para o ministro da Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, já existem mecanismo de redistribuição suficientes, "é necessário é que sejam mais eficazes".
Vieira da Silva salientou que os baixos salários estão ligados aos baixos níveis de qualificação. Por isso, e porque este é um dos ciclos viciosos da pobreza -"o pobre tem baixo nível de educação por ser pobre e é pobre por ter níveis baixos de escolaridade" - a qualificação é uma batalha fundamental para quebrar o ciclo.
Por outro lado, os ordenados baixos reflectem-se no valor das pensões e mais de metade dos reformados no País são pobres, diz o estudo. Mas o grupo etário mais representado entre os pobres é o dos jovens com menos de 17 anos, que representa 24% do total. Para os autores, "é particularmente preocupante que mais de metade dos jovens e crianças tenha experimentado a pobreza em pelo menos um dos seis anos de estudo".