Carla Soares, in Jornal de Notícias
O Porto perdeu população e emprego, mas aumentou o número de trabalhadores com ensino médio ou superior. Estas são conclusões de um estudo da Faculdade de Economia, que defende maior aproveitamento do capital cultural da cidade.
Fruto de um protocolo com a Câmara, o estudo faz o diagnóstico da base económica do Porto e do emprego, entre 1991 e 2005, centrando-se no concelho mas alargando a base de trabalho à sua área envolvente.
Entre as principais conclusões da equipa da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, está uma "dupla perda": de população residente e de emprego privado, sendo a primeira não mais do que o prolongamento de uma tendência já conhecida.
Em jeito de solução, os autores destacam que o Porto "dispõe de um capital cultural capaz de, em articulação com o seu potencial de produção de capital humano, funcionar como factor de atracção de população e emprego". Porém, ressalvam em jeito de crítica, "tem que se reconhecer que este potencial não está a ser plenamente aproveitado".
"O que se impõe é assegurar que os investimentos realizados no passado concretizam o seu potencial de produção de benefícios, evitando-se que, pela ausência de investimentos marginais, a despesa anterior se revele improdutiva", sugere o estudo. O turismo, diz, beneficiaria directamente do progresso em matéria de infra-estruturas, qualidade de vida e actividade cultural. Sector com "importância estratégica para a economia do Porto e regeneração do centro histórico", tem ainda uma "grande margem" para crescer.
Rui Rio, que participou na apresentação, no Teatro Rivoli, defendeu o aumento de população apenas no centro, com uma "repovoação" da Baixa e diminuição dos movimentos pendulares e dos engarrafamentos. Ou seja, repovoar com pessoas que já trabalham no Porto mas residem noutros concelhos.
Recorrendo a informação estatística oficial, o estudo aprofunda a perda de população no Porto, sendo que 67,% das saídas da cidade têm como destino os concelhos limítrofes. Gaia, Maia e Gondomar registam, neste contexto, os maiores acréscimos. Outro dado relevante é que 51% das pessoas que se mudam para outros concelhos continuam a trabalhar ou a estudar no Porto. Além disso, ressalvam os autores do estudo, a perda de população "não significa perda de atractividade enquanto espaço de residência, já que a cidade continua a atrair novos residentes, que são, sobretudo, activos qualificados e que trabalham predominantemente no Porto". No capítulo económico, há um crescimento fraco quer no número de empresas com sede na Invicta, quer no número de estabelecimentos ali localizados. Isso somado ao decréscimo do emprego. Por sectores de actividade, comércio, restauração e hotelaria estão em maioria. Em contraponto, está o declínio na indústria transformadora. De registar é também a especialização nos serviços, que apresenta uma dinâmica de crescimento elevada. Foi o único que criou emprego em termos líquidos. Além de principal pólo de emprego e de estudo da Área Metropolitana, o Porto surge também como pólo de prestação de cuidados de saúde.