Ricardo Garcia, in Jornal Público
Reunião das 16 maiores economias do mundo, incluindo China, Índia e Brasil, apenas reconhece necessidade de "profundos cortes" nas emissões
O G8 não conseguiu convencer os países em desenvolvimento quanto a uma meta de longo prazo para reduzir as emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global. Numa reunião paralela à cimeira do G8, que terminou ontem na ilha japonesa de Hokkaido, as 16 maiores economias mundiais - sete delas do mundo em desenvolvimento - não fizeram mais do que concluir que são necessários "cortes profundos" nas emissões globais.
O resultado ficou aquém do que o próprio G8, o grupo dos oito países mais industrializados, decidira no dia anterior: uma redução de pelo menos 50 por cento até 2050. Este valor é assumido pelo G8 - Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido, Itália, Alemanha, França e Rússia - mas como uma meta global, que deve envolver o esforço de todas as nações.
Os países em desenvolvimento continuaram a exigir do G8 que avance primeiro com metas próprias de redução a médio prazo. Sem acordo neste aspecto, a meta global dos 50 por cento falhou o seu primeiro embate e ficou de fora do comunicado da reunião das 16 maiores economias mundiais, que incluem China, Índia, Brasil, México, África do Sul, Indonésia e Coreia do Sul.
As diferenças reflectiram-se também nas reacções ao resultado do encontro. "Fizemos progressos, significativos progressos, em direcção a uma abordagem global", saudou o Presidente norte-americano, George W. Bush, que foi quem lançou as reuniões das maiores economias, como um fórum paralelo para discutir soluções para o aquecimento global. "Para responder às alterações climáticas, todas as maiores economias devem sentar-se à mesma mesa, e foi isto que aconteceu hoje", acrescentou Bush, citado pela agência de notícias AFP.
Força de bloqueio
Os Estados Unidos continuam a ser vistos, porém, como a força de bloqueio contra compromissos mais fortes e vinculativos por parte dos países desenvolvidos. "Pode-se dizer que é um problema, um desafio ou uma realidade do nosso cenário político internacional o facto dessas discussões funcionarem sempre sobre um denominador comum", disse o ministro sul-africano do Ambiente, Marthinus Van Schalkwyk. "E este denominador comum são os Estados Unidos."Já o Presidente chinês, Hu Jintao, lembrou que as nações industrializadas têm de cumprir o Protocolo de Quioto, que os obriga a reduzirem as suas emissões em cinco por cento até 2012, em relação aos níveis de 1990.
Achim Steiner, director do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, não vê grandes avanços nos resultados de Hokkaido, no que toca às alterações climáticas. "Pelo menos não se deu um passo atrás. Mas creio que estamos ainda mais longe de onde deveríamos estar hoje, em termos de acção", afirmou à rádio alemã NDR.
As alterações climáticas foram um dos temas fortes desta cimeira do G8, marcada também pelas preocupações com a alta do petróleo e dos alimentos, e com temas políticos candentes, como o do Zimbabwe. Os oito líderes do G8 defenderam um aumento da produção e refinação de petróleo, embora apenas um deles - a Rússia - seja um grande exportador daquele produto. A cimeira de Hokkaido foi a primeira do novo Presidente russo, Dmitri Medvedev, eleito em Março passado. Medvedev prometeu aumentar a produção agrícola do país, como resposta à actual crise alimentar, e sugeriu a realização de uma "cimeira dos cereais", na Rússia. A ideia, apoiada pelos restantes líderes do G8, é discutir temas como direitos de exportação e proteccionismo, que, segundo o presidente russo, têm causado "sérios problemas globais", conforme disse numa conferência de imprensa, citado pela Reuters.
Comércio mundial em foco
O tema do comércio mundial foi alvo de conversações, durante a reunião do Japão, entre os líderes de Estados Unidos, França, Brasil e Reino Unido. Os dois últimos, Lula da Silva e Gordon Brown, emitiram um comunicado conjunto, salientando a necessidade de abertura dos mercados internacionais.
O Brasil tem liderado a reivindicação dos países em desenvolvimento para que sejam reduzidos os apoios à agricultura na Europa e Estados Unidos. A França é um dos países que mais se opõem aos cortes. Este é um dos pontos que estão a bloquear um acordo nas negociações lançadas em Doha, em 2001. O assunto voltará à discussão numa reunião em Genebra, dia 21 de Julho, no âmbito da Organização Mundial de Comércio. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, salientou que o Brasil deixou uma mensagem de maior abertura nas conversações em Hokkaido. "Mas a janela de oportunidade para se atingir um acordo é pequena e está-se a fechar", alertou.