11.7.08

Três dias para celebrar casamento cigano

Paula Julião, Viana do Castelo, in Diário de Notícias

Viana do Castelo. Comunidade quer mostrar que é sociável

Dançar, comer e beber até de madrugada é obrigatório em qualquer casamento cigano que se preze. E foi isso que aconteceu na terceira cerimónia registada na comunidade de Viana do Castelo, à qual o DN assistiu. O "sim" dos noivos é dado hoje, ao fim de três dias de festa e perante a satisfação do avô do rapaz, chefe de uma comunidade com quase uma centena de famílias na região.

"Não pode faltar nada, de comer ou de beber. Estão mais de dez mulheres na cozinha a trabalhar para isso", garantiu o "chefe" Silva, autorizando a presença do DN no interior do recinto da festa, uma tenda alugada por onde já passaram cerca de 400 pessoas desde quarta-feira. Cabrito guisado, rancho e música cigana fizeram as delícias de todos, especialmente das mulheres mais novas, devidamente engalanadas com pesados brincos e fartas colecções de ouro. "O casamento é só hoje. Os dias de festa antes da cerimónia são para manter a família junta", assegura o patriarca e avô do noivo. Telma, com 19 anos, e Jorge com 21, estão "prometidos" pelos pais de ambos há mais de um ano. "Na nossa etnia, as coisas funcionam assim. E bem, há muitos anos", assegurou António Silva, de 82 anos e líder da comunidade há mais de 25.

"Faço tudo pelos meus, menos quando são problemas de droga ou de roubo. Para tudo o resto, contam comigo e com a minha influência, mas nem sempre é possível controlar tudo", contou, admitindo que a abertura destes casamentos à presença de pessoas de fora é um passo para promover a integração. "Não podemos mostrar tudo o que se faz, mas estamos abertos a quem nos quer conhecer. É uma forma de mostrarmos que também somos sociais", explicou.

No entanto, nem só de "comer e beber" vive o casamento cigano. À noiva ainda cabe a tarefa de comprovar que vai virgem para o casamento. "É condição obrigatória para haver casamento. As nossas anciãs verificam se está tudo certo com ela e só depois é que se realiza o casamento." Depois dos ancestrais "testes" ultrapassados, os noivos viveram na quinta-feira o primeiro momento em comum, ao serem brindados com uma "chuva" de amêndoas, a primeira grande recepção da família ao casal e que serve de última etapa antes da cerimónia religiosa agendada para hoje. "Depois do casamento, as famílias vão ajudá-los a começar a vida e depois tornam-se autónomos, como tem de ser. Mas para já faz-se a festa", rematou o chefe.