17.9.08

Bruxelas pede melhor integração dos ciganos

Alexandra Carreira, Bruxelas, in Diário de Notícias

Europa. Líderes da UE vão discutir discriminações na cimeira de Dezembro

Durão Barroso e George Soros em clara sintonia nesta matéria


"É o pior caso de discriminação da União Europeia." Foi desta forma que o economista George Soros, um dos mais conhecidos defensores dos direitos da etnia cigana em todo o mundo, começou ontem a sua intervenção no primeiro encontro europeu dedicado à etnia rom.

Na mesma linha, o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Durão Barroso, não evitou a palavra "racismo" no seu discurso. Lembrando-se certamente dos recentes conflitos na Quinta da Fonte, em Loures, onde o tema também saltou para o primeiro plano da actualidade portuguesa.

Estima-se que, em toda a União Europeia, vivam hoje entre oito e dez milhões de ciganos. A presidência francesa quer levar a problemática da integração e do acesso à educação e emprego ao encontro dos chefes do Estado e de Governo, de Dezembro. A "Cimeira Roma" decorreu ontem, em Bruxelas, e juntou, pela primeira vez, cerca de 500 representantes das instituições comunitárias, Estados membros, fundações e organizações de defesa de direitos humanos.

A exclusão de uma das principais minorias étnicas de todo o continente europeu esteve no topo da agenda mas, a ensombrar o debate, as organizações não governamentais atacaram Bruxelas pela falta de uma estratégia real de inclusão nas sociedades europeias.

Um relatório da CE, publicado em Julho e recordado ontem pelo comissário Vladimir Spidla, responsável pela igualdade no Executivo de Durão Barroso, reenvia a culpa para a falta de implementação das medidas e leis europeias nos Estados membros.

"Os instrumentos para criar a mudança estão fundamentalmente nas mãos dos Estados membros", esclareceu o presidente do Executivo, "ainda que possam ser coordenados ao nível comunitário".

Por outro lado, os casos de alegada perseguição por parte do Governo italiano, de Silvio Berlusconi, contra os roma [uma etnia cigana] vieram acender o debate e levantar, mais ainda, a questão de uma discriminação enraizada da qual, frisou Vladimir Spidla, "os roma são um alvo colectivo".

E o comissário continuou: "77% dos europeus consideram que ser cigano é uma desvantagem."

A juntar à estatística, diz a ministra francesa para os Assuntos Sociais, "os roma têm entre dez e quinze anos a menos em termos de esperança média de vida" do que o resto dos cidadãos europeus.

"É preciso investir na educação", advertiu George Soros, mais uma vez em consonância com José Manuel Durão Barroso.

Mas, aqui, o desafio cabe apenas às 27 capitais, já que "a educação não é um campo de competências comunitárias".

O mosaico da discriminação na Europa piorou com os dois últimos alargamentos comunitários.

Só na Eslováquia e na Bulgária, dez por cento da população é composta por ciganos roma.

Depois da entrada no clube europeu e a consequente liberdade de movimentos atribuída aos cidadãos comunitários, os ciganos passaram a movimentar-se de leste para ocidente, em busca de melhores condições de vida.

Actualmente, Itália e Espanha são os países da velha Europa que mais ciganos recebem dentro de fronteiras.

Mas aqui, mais uma vez, as organizações não governamentais acusam os Governos europeus de não reconhecerem plenamente a identidade europeia aos ciganos, envolvendo-se muitas vezes em campanhas de regresso aos países de origem.