25.9.08

Juros elevados estão a travar o crescimento económico

Rosa Soares, in Jornal Público

A Euribor sobe há 11 sessões consecutivas, o que agrava os custos do crédito. Injecções de liquidez não travam desconfiança dos bancos


O profundo receio dos bancos face à dimensão da actual crise financeira, incluindo uma profunda desconfiança sobre o que pode estar escondido nos balanços de algumas instituições europeias, estão na base da escalada das taxas Euribor, que estão em máximos históricos. Esta situação lança mais dúvidas sobre a possibilidade de se ensaiar uma retoma económica.

O aumento destas taxas de juro, fixadas diariamente através da média das operações de empréstimos entre 57 bancos da União Europeia e países terceiros, reflecte-se negativamente nos orçamentos das famílias e das empresas, pelo aumento dos encargos com os créditos, provocando ainda uma forte retracção no consumo, numa altura em que a economia europeia está em estagnação ou à beira da recessão.

A factura da subida dos juros chega pelos pedidos de novos empréstimos, mas também pelas revisões periódicas a que os contratos à habitação e as empresas estão sujeitos. A Euribor a seis meses, o indexante mais utilizado nos contratos à habitação em Portugal, subiu ontem de 5,256 para 5,276 por cento, o valor mais alto de sempre. O prazo de um ano, que é o mais utilizado em Espanha, também renovou o máximo histórico, ao chegar ontem aos 5,467 por cento, contra 5,450 no dia anterior. O prazo de três meses, que começa a ter uma utilização crescente nos empréstimos nacionais, avançou para os 5,066 por cento, contra 5,029 por cento anteriores.
Quando rebentou a crise, em Agosto do ano passado, a Euribor a seis meses estava nos 4,5 por cento, um valor já bastante alto face ao mínimo de dois por cento que atingiu em 2005. Tendo por base o valor da Euribor a seis meses de há um ano atrás, um empréstimo de 150 mil euros, a 25 anos, com um spread (margem do banco) de 0,7 por cento, custa agora mais 70 euros mensais.

A contínua subida das taxas interbancárias, ininterrupta há mais de 11 sessões, está a acontecer, apesar da acção concertada de vários bancos centrais, incluindo o Banco Central Europeu (BCE), de injectar montantes sem precedentes no mercado, de forma a evitar qualquer ruptura na cadeia de pagamentos. As mega- -injecções de liquidez têm ajudado a estabilizar os mercados, mas são insuficientes para retirar pressão da procura e restituir confiança aos próprios bancos.

"Neste momento, quem tem dinheiro para emprestar tem dois tipos de receios: o primeiro é o de que pode vir a precisar dele no curto prazo e não ter quem lho empreste; e o segundo, eventualmente mais grave, é o temer que o banco ao qual vai emprestar possa estar com problemas financeiros, pela exposição directa ao crédito de alto risco, ou pelas participação detidas em bancos em dificuldade", explicou ao PÚBLICO um analista.

Em boa parte pela pouca disponibilidade para empréstimos entre bancos, a Euribor a seis meses está a distanciar-se cada vez mais da taxa directora do BCE, que está actualmente nos 4,25 por cento. O diferencial superior a um por cento, o maior de sempre, é considerado manifestamente excessivo. Também as taxas de mercado em dólares, a Libor a um mês, estão no nível mais alto desde Janeiro deste ano, nos 3,43 por cento, quando a taxa da Reserva Federal (Fed) norte-americana está nos 2,0 por cento.

As dúvidas quanto à aprovação do plano de ajuda da Administração norte-americana para salvar instituições financeiras em dificuldades, que têm levado o secretário do Tesouro e o presidente da Fed a dramatizarem o discurso, também não ajudam a dar confiança aos bancos na Europa.

O nervosismo dos bancos europeus tem a ver com a exposição ao crédito de alto risco, como se viu pelas participações detidas pelo Lehman Brothers (que pediu protecção dos credores na semana passada), bem como pela exposição directa aos chamados "activos tóxicos".

Um estudo do Centro para os Estudos de Política Europeia, citado pelo jornal Irish Times, alerta para a elevada fragilidade de muitos bancos europeus, temendo que muitos deles venham a revelar problemas nos próximos tempos.