17.9.08

Mais 75 milhões de pessoas passam fome no mundo

Joana Azevedo Viana, in Jornal Público

50%
foi o aumento que os preços dos bens alimentares sofreram desde Janeiro - mais do dobro do que em 2007


O director-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Jacques Diouf, anunciou ontem que estão a registar--se aumentos alarmantes do número de pessoas que passam fome no mundo. Segundo a organização, de 2006 para 2007 houve um aumento de 75 milhões de pessoas com fome, estimando-se que existam, neste momento, 925 milhões de pessoas afectadas, em vários países.

O índice da FAO para os preços dos produtos alimentares não é mais animador. O relatório regista um aumento de preços na ordem dos 50 por cento nos primeiros sete meses deste ano, o maior dos últimos anos. Ao longo de 2007, os preços tinham subido 24 por cento em relação ao ano anterior; em 2006 o aumento tinha sido de 12 por cento.

Diouf afirma que, apesar das previsões optimistas resultantes do aumento das produções agrícolas na Federação Russa, "os preços permanecerão altos durante os próximos anos e a crise alimentar continuará a assolar os países mais pobres".
De acordo com os cálculos da FAO, "será preciso investir 30 mil milhões de dólares por ano para duplicar a produção alimentar e eliminar a fome no mundo".
Jacques Diouf considerou que estes são gastos "modestos" em comparação com as "somas gastas pelos países-membros da Organização sobre Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) em armamento".

Em Agosto, o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) falou em números semelhantes, num relatório no qual a região do Corno de África (da qual fazem parte países como a Etiópia ou a Somália) aparecia como a região do mundo onde a população mais sofre com a falta de alimentos.

"No máximo, até 2015" era o prazo para acabar com a fome mundial, lembrou Jacques Diouf.

Esse prazo foi já apontado pelo PAM em Julho e é defendido por organizações há vários anos. Reunidos no início de Junho em Roma, os países membros da FAO assinaram então uma declaração final em que se comprometiam a diminuir para metade o número de pessoas que passam fome no mundo até 2015, apesar da crise alimentar. Esta declaração reafirmava as conclusões das cimeiras sobre alimentação de 1996 e de 2002.
Mas agora o responsável máximo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura diz que, "pelas tendências observadas [actualmente], esse objectivo só será atingido em 2150, e não em 2015".