Catarina Gomes, in Jornal Público
"O drama dos filhos únicos" foi um dos temas explorados num seminário sobre o envelhecimento demográfico
Em Portugal cada mulher em idade fértil teve no ano passado uma média de 1,32 filhos, um número que a manter-se implicará que até 2050 o país possa perder um milhão de habitantes. Em vez de ser o nono país mais populoso da União Europeia passaria para 11.º lugar, disse ontem Eduardo Brito Henriques, membro da direcção da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) no seminário Inverno demográfico.
O responsável comparou o cenário que poderá ser vivido em 2050 a 1960, altura em que o país tinha menos um milhão de habitantes, "mas em vez de um país de jovens, teremos um país de idosos". Nessa altura, por casa 100 pessoas que trabalham existirão 18 jovens e 59 idosos, continuou Brito Henriques, que falava num evento que decorreu em Lisboa, com base numa projecção feita pela APFN com base em dados demográficos referentes ao ano passado.
Desde 1983 que Portugal não consegue "repor gerações" e Brito Henriques afirma que desde 2002 tem vindo a decrescer o número de novos imigrantes que chegam ao país. "A imigração não basta para inverter o declínico demográfico", um problema que, além dos efeitos na sustentabilidade da segurança económica, tem consequências económicas, defendeu: "Pede-se às economias que continuem a gerar riqueza com menos trabalho."
Quando se pergunta aos portugueses por que não têm filhos eles respondem, em primeiro lugar, escassez de recursos e em segundo dificuldade de conjugação com o trabalho, referiu a deputada popular Assunção Cristas. Aos obstáculos à natalidade, a deputada social-democrata Zita Seabra juntou a falta de creches.
O problema demográfico está diagnosticado, menos exploradas estão as implicações "humanas", defendeu a deputada socialista Rosário Carneiro. Referiu-se, sobretudo, "ao drama dos filhos únicos". "Vai-nos acontecer a prazo o que acontece na China", referindo-se a estudos que dão conta da"síndrome do filho único" em "que se desenvolvem personalidades mais egocêntricas, com menos aprendizagem para a partilha". "Descobriram miúdos que não têm capacidade de associação".
Fala de crianças que "são o centro da atenção de seis adultos (pais, avós maternos e paternos)" e que chegam à escola "com dificuldade em fazer trabalhos de grupo porque foi uma competência básica que não desenvolveram", nota a política, que é mãe de nove filhos.
De acordo com dados de 2005 do Instituto Nacional de Estatística, citados pela APFN, 57,8 por cento das famílias tinham filhos: 32 por cento eram filhos únicos.