Susana Salvador, in Diário de Notícias
UNICEF. Relatório anual não traça um balanço positivo
Mortalidade materna é só a "ponta do icebergue", diz a organização
"As causas da mortalidade materna são claras, bem como o são os meios para as combater. Porém, as mulheres continuam a morrer." O alerta é de Peter Salama, chefe do departamento de Saúde da UNICEF, que ontem apresentou o relatório Progressos para as Crianças: Um Balanço sobre Mortalidade Materna. Todos os anos, mais de meio milhão de mulheres perdem a vida em resultado de complicações na gravidez ou no parto, segundo esta organização.
De acordo com o relatório, mais de 99% de todas as mortes maternas ocorrem nos países em desenvolvimento, com cerca de 84% concentradas na África subsariana e no Sul da Ásia. No mundo em desenvolvimento, o risco de morte por complicações associadas à gravidez e ao parto no decurso da vida de uma mulher é de um em 76. Nos países industrializados, este é de um para oito mil.
Por cada mulher que morre, 20 outras terão sequelas durante o resto da vida - há dez milhões que sofrem problemas de saúde, como fístulas que danificam os órgãos reprodutivos ou anemias graves, devido a partos complicados. A UNICEF lembra que a mortalidade materna é apenas "a ponta do icebergue".
A hemorragia é a causa de morte mais comum, especialmente na África e na Ásia. Mas há factores que também exercem influência, como a pobreza e a desigualdade, ou até as práticas culturais que, com frequência, impedem as mulheres de procurar ajuda no parto. A forma de alterar este cenário negativo já é conhecida: melhorar os cuidados de saúde antes e depois do parto. A UNICEF destaca a necessidade de investir nos testes e aconselhamento sobre a sida, bem como no planeamento familiar.
Peter Salama destaca ainda que o problema não é indissociável do local destinado às mulheres na sociedade. "Não há nenhuma dúvida sobre os factores ligados aos direitos das mulheres nos seus países. Quer falemos de parto precoce, de mutilação genital ou da atitude perante a sexualidade, todos estes elementos têm um impacto sobre a saúde das mulheres."
Apesar dos aspectos negativos, há pontos positivos a destacar. A cobertura de cuidados pré-natais no mundo em desenvolvimento aumentou 15% na última década, com 75% das grávidas a receberem alguns cuidados desse tipo. Por outro lado, em certas partes da Ásia, a proporção de mulheres que têm assistência qualificada durante o parto aumentou de 31% para 40%, entre 1995 e 2005.
Ainda assim, são progressos insuficientes para cumprir as metas dos Objectivos do Milénio, que estabeleceram uma redução de 75% na taxa de mortalidade materna até 2015.