24.9.08

Geldof e Bono elogiam Durão por "ter dado um murro na mesa" e querer apoiar África

Joana Azevedo Viana, in Jornal Público

Os dois activistas estiveram ao lado do presidente da Comissão Europeia e apoiaram plano de 1,5 mil milhões de euros para apoiar agricultura africana


O projecto de financiamento da agricultura africana que Durão Barroso propôs aos países-membros da União Europeia, em Julho, conquistou dois apoios fortes. Os músicos e activistas Bob Geldof e Bono Vox deram ontem uma conferência de imprensa com o presidente da Comissão Europeia, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, para elogiar o projecto - e o responsável europeu que o apresentou, por "ter dado um murro na mesa".

"Estes agricultores africanos que revolvem a terra, sem fertilizantes e sem sementes para plantar, estão numa situação crónica, enquanto os agricultores europeus, que naturalmente estão solidários com os africanos, sabem que têm excedentes guardados para quando há problemas no mercado europeu", afirmou Bono Vox, o vocalista da banda U2. "Eles [os agricultores europeus] não vão precisar disso este ano, portanto acredito que gostem desta ideia".

Bob Geldof, ex-rocker irlandês, famoso desde os anos 1980 pelos seus concertos de angariação de fundos para África, o Live Aid e o Live 8, disse: "Se nós [europeus] não precisamos de gastar mil milhões de euros, talvez o mundo, só por esta vez, consiga ajustar-se moralmente às vítimas das inequidades económicas".

O projecto de Durão Barroso está em discussão desde Julho. O conceito é pegar nos fundos europeus da Política Agrícola Comum (PAC) que não foram usados durante este ano (quase 1,5 mil milhões de euros) e aplicá-los no continente africano, financiando, entre outras coisas, sementes e adubos. Mas a sua aplicação, lembrou Bono, tem de ser "rápida", já que "estamos em plena época de cultivo".

Barroso sublinhou, contudo, que o dinheiro só pode ser gasto se não houver "oposição dos Estados-membros e do Parlamento Europeu". Segundo o presidente da comissão, este é um "teste importante", e que "agora que se discutem pormenores é que as coisas ficam mais difíceis". O anúncio oficial ainda não foi feito, mas já há países que, "incrivelmente, estão a tentar boicotar" o projecto, afirmou Geldof. A Alemanha é um dos países que o estará a fazer, embora Bono não acredite nisso. "[A Alemanha] tem sido verdadeiramente heróica nos últimos anos a tentar cumprir as promessas feitas" durante a cimeira do G8.

Neste momento, há 935 milhões de pessoas que passam fome em todo o mundo, a maioria das quais está concentrada nos quatro países do Corno de África, o Djibouti, a Eritreia, a Etiópia e a Somália.

Nos próximos dias, Barroso vai pedir apoio a organizações como o Programa Alimentar Mundial e o Banco Mundial. Bono e Geldof pretendem ficar pelas Nações Unidas a publicitar o projecto. Porque até ao fim da semana ainda há decisões a tomar, Geldof recomendou aos jornalistas: "Voltem sexta-feira!".