Ana Nunes, in Jornal Público
A instituição criada em 1498 presta apoio a mais de cinco mil idosos carenciados, três mil crianças e presta atendimento médico a mais de 140 mil utentes
O número de pessoas a recorrer aos serviços de emergência social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) aumentou seis por cento no primeiro semestre do ano, declarou ontem Rui Cunha, o provedor da instituição, em entrevista à agência Lusa.
Em 2007, os serviços de emergência social da Santa Casa apoiaram 1492 pessoas, número que aumentou este ano. Segundo o provedor, este crescimento da procura não parece ter origem nos "chamados pobres tradicionais", mas sobretudo na classe média que enfrenta dificuldades.
"As pessoas aparecem nas situações mais diversas: ou porque deixaram de ter possibilidade de pagar a renda, ou por situação de desemprego, ou mesmo porque o agregado familiar se desfez, com consequências complicadas, na maioria das vezes para o elemento feminino", analisou o provedor que tomou ontem posse para novo mandato de três anos à frente da Santa Casa.
No sentido de melhorar a qualidade dos serviços prestados, Rui Cunha anunciou que a SCML vai investir nos próximos três anos mais de 100 milhões de euros na reabilitação e recuperação de património. Só durante este ano vão ser investidos 39 milhões de euros. A Santa Casa é uma instituição à qual são doados cerca de 2,8 milhões de euros anuais, o que enriquece o já vasto espólio que conta com 250 edifícios, 106 apartamentos autónomos e 111 terrenos. A SCML é proprietária de 945 jazigos, que mantém preservados como contrapartida de heranças recebidas.
Muito deste património encontra--se em mau estado de conservação e a precisar de intervenções de reabilitação, explica Rui Cunha, que acrescenta que já foram adjudicadas no ano passado 1325 obras, estando actualmente a decorrer trabalhos em mais de 50 instalações.
O provedor admite ainda colocar no mercado de arrendamento vários imóveis ou até alienar algum património, sobretudo pequenos terrenos agrícolas, sem uso actual. Por outro lado, a SCML quer comprar mais espaços, até porque ainda tem "dois ou três lares de idosos e duas instituições para acolher crianças" que precisam, com urgência, de mudar de instalações, o que constitui uma das prioridades para o próximo ano.
O problema, lamenta Rui Cunha, é que muitas pessoas, sobretudo da classe média-alta, não gostam de ter equipamentos da Santa Casa da Misericórdia como vizinhos, considerando "desprestigiante para o bairro". Com Lusa
Os equipamentos e serviços de apoio social só abrangem 2,5 por cento dos cerca de 120 mil idosos do concelho de Lisboa, revela o provedor. Rui Cunha salienta a necessidade de reforçar os serviços, o que irá passar por mais duas residências assistidas e serviço de apoio domiciliário (disponivel em 20 das 53 freguesias do concelho). O objectivo é "cobrir toda a cidade com apoio domiciliário integrado". Já em 2009 deve ficar concluido um levantamento geográfico de todos os idosos do concelho.