José Milherio, TSF Serviço especial para o DN, in Diário de Notícias
Nações Unidas. O Presidente da República está em Nova Iorque para a 63.ª Assembleia da ONU
A crise financeira que abalou a semana passa a bolsa de Nova Iorque vai atingir Portugal, é o que pensa o Presidente da República. Cavaco Silva, presente em Nova Iorque para a 63.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, disse aos jornalistas que na actual crise "todos pagam uma factura, não só os contribuintes norte-americanos, por isso, a minha preocupação volta-se para aqueles que são as vítimas, que tem menos acesso ao crédito, pagam taxas de juro mais elevadas e tudo isso pode atingir os portugueses. Quase de certeza que vai atingir os portugueses", sublinhou o chefe do Estado.
Cavaco Silva vai estar amanhã na Bolsa de Nova Iorque para o ritual da abertura do mercado com o habitual toque do sino de Wall Street. Tal como disse o Presidente, vai estar no "epicentro do ciclone financeiro que anda por aí".
Aos jornalistas, o chefe de Estado disse, estar "muito interessado em ouvir o que é que se pensa em Wall Street, isto é, o que é que pensam aqueles que estão no epicentro desta crise que muitos dizem ser a pior desde 1929".
Cavaco Silva disse ter uma "ideia sobre aquilo que falhou: reguladores, supervisores, bancos centrais, a invenção que se fez de produtos financeiros". Questionado sobre a responsabilidade dos Bancos nesta crise, Cavaco Silva disse que " a banca tem responsabilidades quando os reguladores e os supervisores deixam que eles caminhem por caminhos de produtos tóxicos". O Presidente adianta que se "permitiram todas as invenções de tal forma que agora nem se consegue descortinar o que é que está dentro dos produtos financeiros que foram inventados ao ponto de algumas instituições financeiras dizerem que não sabem se estão ou não a serem atingidos por esta crise. Os produtos são de tal forma complexos que eu acredito que nem os próprios reguladores entendem o que está dentro desses mesmos produtos".
Ontem em Nova Iorque, o presidente francês propôs que se fizesse uma cimeira de chefes de Estado sobre a crise financeira, até ao final do ano. Uma proposta bem acolhida por Cavaco Silva para quem "os grandes agrupamentos políticos onde se encontra a União Europeia não podem deixar de discutir este assunto e o presidente Sarkozy tem procurado colocar sobre a mesa esse problema".
Para Cavaco Silva "já existe cooperação entre instituições internacionais. O Banco Central Europeu já foi chamado e tem colaborado na cedência de liquidez em grandes montantes".
Mas é preciso esperar para ver "como é que o sistema reage a esta proposta que está a ser discutida entre a administração norte-americana e o congresso de 700 mil milhões (seis vezes o produto interno português) mas há quem diga que não chega que tem que ser um trilião, isso mostra bem a dimensão desta crise", adianta Cavaco Silva.
Quando foi recebido na sede das Nações Unidas, o secretário-geral, Ban Ki-moon, saudou Cavaco Silva com palavras em português.
Uma satisfação para o Presidente da República que quer ver o português aceite como língua de trabalho da Organização das Nações Unidas.
Na cimeira de Julho da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) foi definido como prioridade a projecção e afirmação da língua Portuguesa nas organizações internacionais.