Luís Garcia, in Jornal de Notícias
O bairro da Quinta do Mocho, em Loures, luta para se transformar, de uma vez por todas na Urbanização Terraços da Ponte. Um combate contra o estigma social, que passa por uma nova relação com as forças de segurança.
Quando, em 1999, começaram os realojamentos dos habitantes da antiga Quinta do Mocho - uma construção abandonada desde os anos 80 -, os moradores foram habitar um bairro novo, construído de raiz, com um nome pomposo: Terraços da Ponte. A mudança de designação pretendia ultrapassar o estigma associado à "marca" Quinta do Mocho, que, testemunham os habitantes, os impedia de ser bem atendidos em repartições públicas ou aceder a muitos empregos.
Passados nove anos, a nova etiqueta ainda não colou, mas os moradores, as associações e a Câmara de Loures não desistem de tentar superar a imagem de pobreza e insegurança normalmente associada ao bairro. Exemplo disso foi o evento sócio-cultural, subordinado ao tema da segurança, que a autarquia organizou ontem no bairro, em colaboração com as associações locais e a PSP.
Para além de ateliês para as crianças, simulacros de acidente e tertúlias, houve música, gastronomia e trajes tradicionais africanos. Os mais novos foram os mais participativos, sobretudo na interacção com os cães e homens da brigada cinotécnica da PSP e nas rondas dentro dos carros da polícia, com direito a sirene ligada.
Os mais velhos gostaram de ver a forma como as crianças se deram bem com os agentes da PSP. É um paradigma de segurança diferente que se tem vindo a afirmar no bairro, explica Lurdes Gonçalves, da Cooperativa Social Educativa para o Desenvolvimento Comunitário. "A polícia era vista como a força que entrava no bairro para vir buscar alguma coisa ou resolver um problema já existente. De há uns tempos para cá, o agente está mais próximo do cidadão e actua mais na prevenção".
No entanto, também há, nos Terraços da Ponte, quem veja a polícia como uma fonte de repressão, crispação e até insegurança. O JN encontrou jovens que se queixam, sob anonimato, de excessos por parte dos agentes. Dizem que gozam com eles, os perseguem e agridem. "Com esses abusos, um gajo vai ficando com a raiva cá dentro e só lhe apetece responder na mesma moeda", dizia um dos jovens. Críticas são respondidas pelos próprios moradores. "A polícia nunca anda atrás de um inocente. Eles têm de proteger o bairro e não fazem nada a quem não fez mal", garante Leopoldino Catarino, 37 anos.
A urbanização dos Terraços da Ponte é um dos pontos de incidência do Contrato Local de Segurança que entra em vigor no próximo mês.