Diana Mendes, in Diário de Notícias
Análises. Até agora, o Estado apenas comparticipava o primeiro teste de HIV, que gera 3% de resultados falsos positivos. Alguns laboratórios suportavam a despesa do teste confirmatório. Porém, noutros casos, o utente tinha de marcar uma consulta no hospital para confirmar o resultado
Utentes têm de ir a consulta para confirmar análise
O teste que confirma a presença do vírus de imunodeficiência adquirida (VIH) não é comparticipado pelo Estado. A análise confirmatória (western blot) tem de ser feita sempre que um primeiro teste tiver um resultado positivo, visto que há casos de falsos positivos. No entanto, essa análise não é paga pelo Estado. Para evitar o que seria uma situação delicada para o utente, há laboratórios que estão a fazer essa confirmação por sua iniciativa, suportando os custos; mas há utentes que têm de fazer novos testes nos hospitais públicos, onde a análise é comparticipada. Mas antes disso, tem de ser marcada uma consulta. Mais rápido, só suportando os custos nos laboratórios.
Os obstáculos à realização deste exame foram denunciados por médicos e pelos laboratórios, que esperam que esta análise seja integrada futuramente na lista de exames comparticipados pelo Estado, o que a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida confirmou ontem ao DN. O problema existe tanto para os utentes do SNS como para os funcionários do Estado (ADSE).
Germano de Sousa, presidente da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, confirmou ao DN que o teste western blot não é pago pelas ARS. "No meu laboratório [Labdiagnóstica], faço o exame à minha custa. Sinto obrigação de o fazer por razões éticas, visto que o resultado tem uma exactidão de 97%. Não se pode dizer que um primeiro resultado é positivo, mas sim reactivo. Para ter a certeza tenho de fazer novo exame. É assim que mandam as boas normas orientadoras", sublinha. O médico sublinha a importância deste problema, visto que "cerca de 50% a dois terços dos testes HIV são feitos pelos laboratórios convencionados", avança.
Nem todos fazem o mesmo exame sem custos para o utente, o que Germano de Sousa considera perfeitamente compreensível. O western blot custa entre cem a 200 euros nas clínicas privadas. O risco de falsos positivos não é grande, mas transmitir a uma pessoa que está infectada "é uma situação demasiado delicada", refere. Por isso, a análise tem de ser confirmada o mais rapidamente possível.
Mas se alguns fazem a confirmação, há médicos que têm de enviar o utente para uma consulta de infecciologia num hospital para ter o resultado final, porque sem ela não podem fazer a análise. E marcar uma consulta ainda pode atrasar um pouco mais o processo.
Germano de Sousa dá o exemplo das grávidas, que têm mais resultados positivos falsos "por haver interferência de proteínas". As confirmações em hospital são mais complicadas "porque o serviço público não tem capacidade. Todos os dias os laboratórios convencionados realizam 30 mil análises", frisa.
O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), laboratório de referência, "realiza cerca de 300 análises por ano", de confirmação. Os números têm sido estes nos últimos anos. Das 300 análises feitas anualmente, "calcula-se que 85% se confirmem. Mas há casos que podem ainda não se ter revelado", assume fonte do instituto.