17.9.08

Empresários "interrompem" optimismo e esperam uma diminuição do emprego

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

O indicador de clima económico do Instituto Nacional de Estatística revela um
abrandamento nos últimos três meses, atingindo o ponto mais baixo desde Maio de 2006


Os empresários tornaram-se, em Julho e Agosto passado, mais pessimistas quanto à evolução do emprego. As expectativas optimistas detectadas desde o início do ano, quando se atingiu o ponto mais alto desde Maio de 2002, inverteram-se, refere a nota de conjuntura do Instituto Nacional de Estatística (INE) ontem distribuída. Esta inflexão segue a evolução mais recente dos indicadores económicos que se tem vindo a degradar.

A conjuntura é influenciada pelo clima económico comunitário. Na zona euro, apesar da descida do preço do petróleo, "os indicadores de sentimento económico e de confiança dos consumidores prolongaram em Agosto o movimento descendente observado desde Agosto de 2007", refere o INE.

Os empresários da indústria transformadora dos principais países clientes de Portugal acentuaram ainda mais as suas opiniões negativas sobre a evolução da carteira de encomendas, iniciada em Maio de 2007. E estas opiniões reflectiram-se no sentimento dos empresários da indústria transformadora nacional que, em Agosto, voltaram a confirmar o seu pessimismo iniciado em Outubro de 2006. As exportações cresceram 2,2 por cento em Julho passado, ou seja, menos um terço do que no mês anterior, representando o ponto mais baixo desde Julho de 2005. O indicador do clima económico em Portugal abrandou nos últimos três meses e atingiu o ponto mais baixo desde Maio de 2006.

A evolução mais negativa das encomendas traduziu-se num menor investimento. O indicador da formação bruta de capital fixo "ter-se-á agravado em Julho, retomando o movimento descendente iniciado desde Janeiro" passado. E esta evolução foi comum a todos os sectores, mas "especialmente intensa" no sector do material de transporte. O indicador sobre aquisição de máquinas e equipamentos atingiu o ponto mais baixo desde Agosto de 2006. E o indicador do investimento em construção agravou-se em Julho, após recuperação em Junho passado.

O consumo privado parece ter melhorado nos últimos meses, tanto o alimentar como o de bens não-alimentares. A trajectória negativa de Março a Junho deste ano, quando se atingiu o valor mais baixo desde Outubro de 2003, foi invertida. Mas estes valores ficaram a dever-se, primeiro, à subida no consumo de vestuário e calçado e a uma "diminuição menos intensa" na aquisição de automóvel de passageiros que, refere a nota, "poderá estar influenciada" pelo adiamento de compras devido à alteração do imposto sobre veículos e da descida em Julho deste ano da taxa do IVA (de 21 para 20 por cento).

Já a opinião dos empresários do comércio a retalho "deteriorou-se nos últimos seis meses", mas em contraponto com o indicador de confiança dos consumidores, que recuperou em Agosto. Este indicador atingiu em Julho o ponto mais elevado e interrompeu a trajectória negativa desde Novembro de 2006. Este optimismo poderá, contudo, ser transitório, dado o crescimento esperado do desemprego.