26.10.08

China garante que vai colaborar na procura de soluções para a crise

Vítor Costa, in Jornal Público

Primeiro-ministro desfez dúvidas e diz que a China estará representada na cimeira de Washington do próximo dia 15. Sarkosy e Bush avisam que, se não saírem medidas concretas da cimeira, confiança ainda se vai degradar mais


O Governo chinês comprometeu--se ontem a participar activamente na procura de uma solução para a actual crise internacional que ameaça colocar grande parte do mundo em recessão económica.

No final da 7.ª Cimeira que juntou os líderes da União Europeia e da Ásia (ASEM) em Pequim, e ainda com a imagem de mais uma sexta-feira "negra" nos mercados accionistas bem presente, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, garantiu que a China não só "adoptará uma postura cooperante e pragmática para encontrar uma solução" para a actual crise internacional, como desfez as dúvidas sobre a participação da República Popular na próxima cimeira internacional das 20 maiores economias mundiais a realizar a 15 de Novembro em Washington. A China "participará activamente" na cimeira, disse Wen Jiabao, adiantando que deseja que o encontro seja um sucesso e que chegou a hora de todos os governos mostrarem coragem, determinação e responsabilidade perante as actuais adversidades.

"Temos de usar todos os meios ao nosso dispor para prevenir os efeitos da actual crise financeira sobre a economia real", sublinhou Wen Jiabao. Uma declaração que contrasta com a ideia que até há pouco tempo vinha sendo transmitida de que a política económica de abertura controlada na China lhe iria permitir escapar aos efeitos da actual crise.

A realidade é, no entanto, diferente. As últimas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) "apostam" que a economia chinesa irá registar um crescimento de 9,7 por cento em 2008 e 9,3 por cento no próximo ano. Valores expressivos, mas que mostram uma forte desaceleração face ao crescimento de 11,9 por cento registado em 2007. A confirmarem-se estas previsões, a China irá registar um crescimento de apenas um dígito este ano, algo que já não acontecia desde 2002, quando a economia avançou a um ritmo de 9,1 por cento.

A secundar as declarações do primeiro-ministro chinês, as conclusões da 7.ª Cimeira UE-Ásia foram no sentido de apoiar a cimeira internacional que se irá realizar em Washington e de um reforço da cooperação internacional para ultrapassar a actual crise internacional. Nas suas conclusões, a ASEM defendeu ainda que o FMI deverá desempenhar um papel fundamental na assistência aos países mais afectados pela crise e reafirmaram a necessidade de melhorar a supervisão e regulação de todos os actores financeiros.

De Pequim a Washington

Com uma aparente unanimidade em relação à importância da cimeira do próximo dia 15 de Novembro em Washington, ontem, quer de Pequim, quer dos Estados Unidos veio mais uma alerta sobre o que deve ser a cimeira: deverão surgir medidas concretas, caso contrário o cenário para economia será ainda mais negativo.

Primeiro foi o presidente francês e presidente em exercício da UE, Nicolas Sarkosy, a sublinhar esta necessidade. Depois foi o presidente norte--americano a defendê-la na habitual comunicação radiofónica ao país.

As soluções a encontrar na cimeira é que poderão não ser tão consensuais como a necessidade da sua realização. E ontem, já foi possível notar dissonâncias. O primeiro-ministro chinês foi avisando que o melhor que a China poderá fazer pela economia mundial é manter as suas políticas de estímulo à procura interna. Já Sarkosy afastou por completo a possibilidade de um dos pontos em discussão na cimeira de Washington poder estar relacionado com as taxas de câmbio, isto num cenário em que o euro, ao longo das últimas semanas, se tem vindo a desvalorizar fortemente face ao dólar ajudando as exportações europeias e penalizando as norte-americanas. *com agências