Carlos Rui Abreu, in Jornal de Notícias
Críticas chegaram à Câmara e ao delegado de saúde, mas os visados negam acusações
Grande parte dos 400 moradores da urbanização do Sol Poente, em Fafe, está desagradada com o comportamento de uma família cigana que ali se instalou há cerca de dois meses.
A Associação Sócio-Cultural do Sol Poente (ASCSP) já enviou cartas à Câmara Municipal de Fafe e ao delegado de saúde local para denunciar situações que consideram de extrema gravidade. "A pacatez e a higiene da urbanização foram seriamente afectadas", referiu Artur Magalhães, presidente da colectividade. Sem querer que esta denúncia se confunda com qualquer acto de racismo, já que no bairro sempre viveram pessoas de etnia cigana e completamente integrados, este dirigente elencou algumas das queixas que os moradores apresentaram.
"Numa casa onde podem morar quatro ou cinco pessoas, como é normal em todas as moradias da zona, estão a habitar 14 pessoas, o que nos parece uma monstruosidade; é inadmissível que, ao que se sabe, a casa não possua casas-de-banho e os seus residentes façam as necessidades fisiológicas ao ar livre por trás da cabina eléctrica, perante o nojo e a repulsa dos habitantes; os miúdos praticam pequenos furtos de bens em redor e molestam as crianças aí residentes; a família apropriou-se indevidamente de um assador que estava no Parque de Lazer desde 2005", refere a missiva enviada pela ASCSP.
Além destas queixas, os moradores do Sol Poente já deixaram também de utilizar a fonte do Parque de Merendas, "porque os ciganos lavam lá a cabeça e sentem-se incomodados pelas festas barulhentas que são organizadas naquela habitação e que, segundo a associação, perturbam o sossego do bairro".
Ainda segundo o documento que entrou na autarquia e no centro de saúde locais, há já moradores que querem vender as suas casas e sair do bairro. Artur Magalhães confirmou ao JN todas estas situações e fez questão de frisar que não está em causa o facto de ser uma família cigana mas sim "o desrespeito pelas regras básicas de civismo".
Ao JN, Luísa Monteiro, uma das mulheres ciganas que habita o nº 139 do Sol Poente, diz que todas as acusações que são imputadas à sua família são "mentira". Luísa Monteiro pareceu inclusive surpreendida pela atitude dos vizinhos e salientou que tem com todos relações cordiais de boa vizinhança. "Não tenho problemas com ninguém, cumprimento toda a gente e gostamos muito de viver aqui", afirmou. Quanto às acusações concretas, Luísa fez questão de mostrar ao JN uma das casas-de-banho da sua casa, desmentindo que façam as necessidades na rua e enumerou também as pessoas que lá habitam. "Vivo eu e o meu marido, os meus cinco filhos, o meu genro, a minha nora e mais uma criança". Dez no total. No que diz respeito às festas, confirmaram que nos aniversários costumam juntar a família e amigos. Esta família não teme igualmente a visita do delegado de saúde e têm as portas abertas para quem quiser ver a casa.