João Ramos de Almeida, in Jornal Público
Oficialmente, a carteira de investimentos da Segurança Social sofreu uma perda de 3,14 por cento nos primeiros nove meses de 2008. Mas se a tutela não avança outros números, o PÚBLICO calculou a perda em 200 milhões
A carteira de investimentos da Segurança Social perdeu, pelo menos, cerca de 200 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano em resultado da crise financeira internacional, o que corresponde a menos de dez dias de pensões para a velhice. O PÚBLICO não conseguiu uma confirmação oficial para estes números.
Ontem, os responsáveis do Ministério do Trabalho divulgaram em conferência de imprensa que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), o maior fundo de investimento de capitalização com o objectivo de salvaguardar as pensões em caso de necessidade, sofrera uma perda de 3,14 por cento nos primeiros nove meses de 2008. Esse valor não se encontra mal situado numa lista de fundos de investimento de características semelhantes (ver gráfico).
O ministro, José António Vieira da Silva, e o secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, recusaram-se ontem a divulgar qual teria sido a perda em Setembro e Outubro passado (meses em que a crise financeira foi particularmente aguda), alegando que a avaliação dos fundos de investimento, designadamente os internacionais, é feita apenas através da divulgação da carteira e da rendibilidade, mas em base semestral.
"É assim que trabalhamos, é assim que os fundos internacionais funcionam", afirmou Pedro Marques. "Nós o que divulgamos é a composição da carteira e rendibilidade global. Os fundos privados fazem o mesmo porque não podemos detalhar a própria estratégia de investimento." O presidente do Instituto de Gestão dos Fundos de Capitalização, Manuel Baganha, recusou-se a quantificar ao PÚBLICO a perda de investimento.
Uma "agradável surpresa"
No entanto, com base nos valores oficiais é possível estimar por defeito a perda da carteira de investimentos realizados pela Segurança Social. A 31 de Dezembro de 2007, a carteira foi avaliada em 7560 milhões de euros. Durante os primeiros sete meses de 2008, o Estado injectou no FEFSS - de acordo com os elementos distribuídos mensalmente aos parceiros sociais - aproximadamente 900 milhões de euros, ou seja, a 31 de Julho de 2008 a carteira deveria avaliar-se em cerca de 8460 milhões de euros.
Mas no final de Setembro, segundo os dados ontem fornecidos pelo Ministério do Trabalho, a carteira valia 8257 milhões de euros, isto é, menos cerca de 200 milhões de euros do que em Julho de 2008. Caso se tenha verificado em Agosto alguma injecção financeira do Estado, à semelhança do que aconteceu nos outros meses de 2008, então esse montante deverá ser acrescentado às perdas.
É este valor indicativo de uma gestão menos criteriosa? Na carteira de investimento a 31 de Agosto de 2008, o peso das acções era ainda mais elevado (22 por cento) do que a 31 de Dezembro de 2007 (21 por cento), mesmo quando a crise do subprime já se tinha manifestado no Verão de 2007. O peso das acções nos Estados Unidos mantinham um peso significativo (cerca de 60 por cento), aliás mais elevado do que em Dezembro de 2007 (50 por cento).
Apesar desses dados, o representante da Confederação da Indústria Portuguesa, João Mendes de Almeida, considera que a dimensão da quebra anunciada foi uma "agradável surpresa", dadas as quebras avultadas em todos os mercados. Mas uma outra fonte, que preferiu não se identificar, considera que não é possível concluir. Em primeiro lugar, seria necessário conhecer mais pormenores da gestão, designadamente se as perdas se encontram cobertas por outro tipo de instrumentos financeiros - e esses elementos não são passados aos parceiros sociais, porque não possuem a tarefa de fiscalização. O conselho consultivo apenas aprova o plano de actividades e o relatório e contas. A última reunião do conselho foi em Fevereiro deste ano.