27.10.08

Portugal ainda vai sentir crise mais grave que actual

in Jornal de Notícias

A crise, sente-se já, é grave. A crise, pressente-se, vai piorar. Para o economista Silva Lopes, a pior virá depois, quando Portugal tiver de pagar os custos do esforço dispendido para tentar amenizar os efeitos da actual crise financeira mundial.

No debate sobre o Orçamento do Estado para 2009 organizado pelo Fórum para a Competitividade, Silva Lopes disse que o país enfrenta dois problemas fundamentais: o da falta de produtividade/competitividade e o do elevado endividamento externo.

"Vamos ser obrigados a equilibrar as contas externas", avisou o economista, e, nessa altura, "vamos ter uma crise grave, muito mais grave do que aquela que temos agora". O défice externo português encontra-se próximo dos 10 % do Produto Interno Bruto (PIB) e em 2009 pode chegar aos 12 %.

“Um país não pode continuadamente investir mais do que poupa, pelo que nalgum momento do tempo Portugal terá que inverter essa tendência”, avisou. Para que o défice da balança de transacções correntes possa ir para perto de zero, ou as exportações aumentam ou a despesa interna baixa, notou Silva Lopes.

Famílias têm de poupar

O economista sublinhou a importância dos portugueses (famílias, empresas e Estado) aumentarem a poupança e avisou que Portugal pode enfrentar um situação económica complicada. "Se não se resolve o problema da poupança e se corta o crédito externo [dada a actual conjuntura internacional de crise financeira], temos que reduzir o investimento para níveis insustentáveis com o crescimento económico".

Na sua intervenção sobre o Orçamento do Estado para 2009, Silva Lopes disse ter "algum receio" de que a falta de produtividade e os elevados custos do trabalho possam obrigar os portugueses a aceitar, de forma indirecta, reduções nominais dos salários.

Os altos salários causarão aumento do desemprego, prognosticou o mesmo especialista, prevendo que muitos portugueses, depois de serem despedidos, vão aceitar empregos com ordenados mais baixos, pelo que na prática estão a aceitar uma redução nominal dos salários.