Natália Faria, in Jornal Público
Não é só entre ricos e pobres que o fosso é grande em Portugal. Entre homens e mulheres também. E, sendo verdade que o facto de elas ganharem menos não é novidade, não seria de esperar é que a discriminação salarial fosse tanto maior quanto mais altas as qualificações profissionais.
Mas é isso mesmo que mostra um estudo do economista e ex-deputado do PCP Eugénio Rosa, segundo o qual, em 2006, os ganhos médios das mulheres do grupo "quadros superiores" eram 29,7 por cento inferior aos dos homens, enquanto entre as "praticantes e aprendizes" a discriminação não ultrapassava os 7,9 por cento.
O Eurofound (agência da Comissão Europeia para as condições laborais) já tinha constatado, em Setembro, que as mulheres portuguesas ganham em média menos 25,4 por cento do que os homens. O que Rosa fez foi uma análise mais fina dos números. E concluiu que as mulheres que não completaram o 1.º ciclo do ensino básico ganhavam, em 2006, menos 19,1 por cento que os homens. Já entre as trabalhadoras com curso superior, a disparidade chegava a atingir os 34,4 por cento.
Por exemplo, uma portuguesa com doutoramento recebe em média 1800 euros/mês, enquanto o vencimento médio de um homem doutorado ronda os 2630 euros mensais.
Fazendo as contas às contas dos 1,4 milhões de portuguesas que trabalham no sector privado por contra de outrem, Eugénio Rosa conclui que os patrões lucram à volta de 5,2 milhões de euros a mais em cada ano à custa desta discriminação. "Se acrescentarmos as trabalhadoras com falsos recibos verdes, obtém-se [um lucro extra de] 6068 milhões/ano", conclui.
O economista detém-se numa análise mais detalhada ao sector corticeiro, para denunciar que aqui há 5000 mulheres que "fazem o mesmo que os homens mas ganham menos 97,66 euros/mês". É o caso das laminadoras que ganham 544,5 euros, enquanto os homens com a mesma categoria profissional ganham 642,16 euros.
"A discriminação é tão evidente que, face à denúncia dos sindicatos, os patrões apresentaram uma proposta que está no Ministério do Trabalho pretendendo que essa discriminação só seja eliminada ao fim de oito anos", escreve Eugénio Rosa, criticando a inoperacionalidade da Inspecção de Trabalho no combate a um problema que qualifica como anticonstitucional.