23.10.08

Crise económica obriga empresas a reduzir dádivas ao Banco Alimentar

Fernando Basto, in Jornal de Notícias

O número de instituições que recorrem aos bancos alimentares tem aumentado gradualmente, fruto da crise económica. E o pior é que as empresas controlam melhor a produção e contribuem, assim, com menos excedentes.

Se há local onde facilmente se constata os efeitos da crise no dia--a-dia das famílias portuguesas, ele é um dos bancos alimentares espalhados pelo país. Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, confirmou, ao JN, o progressivo aumento dos pedidos de auxílio que têm sido manifestados pelas instituições de solidariedade social. "Sem dúvida que tem havido um aumento das instituições a pedir apoios", revelou,

Por outro lado, Isabel Jonet manifestou-se satisfeita com o facto de as ofertas por parte das empresas não terem diminuído. "São os excessos de produção que eles entregam aos bancos alimentares e ainda não sentimos grande diminuição", realçou.

Neste aspecto, Maria Luísa, encarregada de dia da instituição "Coração da Cidade", no Porto, afirmou que o volume de entregas de excedentes por parte das empresas tem vindo a diminuir.

"Com a crise, as empresas controlam mais a produção, de forma a não gerar demasiados excessos. E, assim, os bancos alimentares acabam recebendo menos", explicou.

Contudo, Isabel Jonet realçou a importância que têm as campanhas de recolha de bens junto das populações. "Os portugueses são generosos e gostam de dar e isso é muito importante para todos nós", referiu. Prova disso são os números obtidos durante um fim-de-semana de Maio último, dedicado a uma campanha de recolha junto das grandes superfícies comerciais de todo o país. Durante dois dias, foram recolhidas 1702 toneladas de alimentos, fruto do trabalho de 17 700 voluntários.

Os géneros alimentares recolhidos foram distribuídos por aproximadamente 1550 instituições de solidariedade social e, por via destes, a mais de 232 mil pessoas com carências alimentares comprovadas.

A par disso, a rede de cerca de 3300 lojas Payshop, espalhadas por todo o país, permitiu obter doações em dinheiro, para ser convertido em leite.

O número de pessoas assistidas, em 2006, foi de 209 445. No ano passado, o mesmo número passou para 232 754 pessoas. Aumento progressivo tem sido registado, igualmente, no número de instituições apoiadas. As 45 existentes em 1992 passaram para 1239, em 2006, e 1542 em 2007.

Por seu turno, também a evolução da tonelagem recolhida e distribuída tem vindo a aumentar progressivamente desde 1992, altura em que havia apenas 220 toneladas. Em 2007, o mesmo número elevou-se a 19 919 toneladas. A campanha de recolha de alimentos deste ano registou um aumento superior em 25%.