26.10.08

A crise vista em Portugal

in Jornal Público

Segurança Social não será afectada


A actual crise financeira internacional não vai afectar a médio prazo o sistema de Segurança Social vigente em Portugal, "embora afecte a vida de todos", disse ontem o ministro do Trabalho e da Segurança Social. Vieira da Silva, que falava aos jornalistas no final de uma conferência internacional sobre A Economia Social, promovido pela Universidade Católica, em Lisboa, salientou a importância das mudanças registadas nas últimas décadas nas sociedades modernas, "que permitiram minimizar os efeitos de crise". "Uma das mudanças que se operaram nas últimas décadas nas sociedades modernas é a existência de modelos de protecção social que estão perfeitamente defendidos e que têm capacidade de se adaptarem a estas conjunturas", afirmou. "Quando estes modelos não existiam, as coisas eram muito mais duras e tinham tendência a prolongar-se por muito mais. No entanto, temos de estar atentos, de acompanhar a situação e não podemos minimizar os efeitos negativos desta instabilidade internacional. Mas não creio que ponham em causa o essencial do nosso modelo de protecção social", sustentou.

Meta dos 150 mil empregos caiu?

O Governo vai-se afastando cada vez mais da meta de criar 150 mil postos de trabalho na actual legislatura. Ontem, o ministro Vieira da Silva desdramatizou os efeitos da crise na não concretização da meta do Governo em criar 150 mil novos postos de trabalho durante a actual legislatura, considerando que há "outras questões nacionais mais importantes". "As questões que estamos a viver, do ponto de vista internacional, são de uma grandeza de tal ordem que o assunto da meta fixada em 2005 é uma questão que podemos continuar toda a vida a questionar. Mas as grandes questões nacionais não são essas. Passam, sim, por responder à crise internacional que estamos a viver", defendeu. "Se o desemprego aumentar ou se as metas da criação de emprego não forem atingidas, o problema é do desemprego aumentar e de não criarmos o emprego que necessitamos. Não é tanto a questão da meta. Mas é mais difícil hoje do que era há uns meses, quando a nossa economia estava a crescer e a recuperar de forma clara e ainda a criar empregos de forma mais acentuada. Hoje é mais difícil", acrescentou.

Trabalho precário está a aumentar

Os líderes das centrais sindicais CGTP e UGT são unânimes ao admitirem que a crise financeira global está a levar ao aumento da precariedade no mundo laboral, nomeadamente ao nível dos atrasos salariais. "Os empregadores estão a utilizar a crise actual para invocar menores aumentos salariais e para atrasar no pagamento dos salários", admitiu João Proença, líder da União Geral dos Trabalhadores (UGT), à margem do encontro Que segurança, higiene e saúde no trabalho no início do novo século? que terminou ontem na Praia do Carvoeiro, no Algarve.

O secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, também admitiu que "todos os dias" as empresas estão a ser afectadas pela crise e, como consequência, está a aumentar a precariedade dos trabalhadores. Carvalho da Silva referiu o caso da empresa General Electric, cujos resultados que chegavam aos bolsos dos accionistas eram 85 por cento fruto de "especulação financeira" e os restantes 15 é que eram fruto da produção material.

Leilão de casas rende 3,5 milhões de euros

O leilão imobiliário realizado ontem na FIL rendeu "cerca de 3,5 milhões de euros", tendo sido vendidos "70 por cento" dos apartamentos levados à praça, disse à Lusa Pedro Girão de Oliveira, da mediadora Euro Estates. A operação reuniu 67 lotes, constituídos maioritariamente por andares, algumas lojas e moradias. Com uma base de licitação total próxima dos cinco milhões de euros, os apartamentos acabaram por atrair o público, que encheu o recinto, tendo dado azo a algumas pechinchas. O leilão inseriu-se no Salão Imobiliário de Lisboa e a promotora da iniciativa, a Euro Estate, prepara nova sessão para o próximo mês. A Euro Estate opera desde 2004 e, inicialmente, teve ligações à empresa inglesa European Estates, que trabalha no mercado de Inglaterra e EUA, que, "com ou sem crise, vendem tudo em leilão, sendo este meio "um dos canais de distribuição mais utilizados" naqueles mercados, disse Girão de Oliveira, administrador da leiloeira mediadora. Questionado sobre uma eventual recessão que possa atingir o país em 2010, conforme deu ontem a entender o economista Silva Lopes, o administrador da Euro Estates disse que, "em teoria, quanto mais imóveis do crédito hipotecário mais leilões se farão, mas a crise também nos afecta, porque a recessão fará com que haja menos pessoas a comprar".