Manuel Esteves, in Diário de Notícias
Desemprego. Anúncios de despedimento alastram por todo o mundo
É já uma certeza: o desemprego vai aumentar em Portugal. É isso que está a acontecer nas economias desenvolvidas e a razão é simples: a crise do sistema financeiro e bancário obrigou os bancos a fecharem a torneira do crédito às empresas e particulares, estrangulando a economia. Se não há crédito, há menos investimento e menos consumo. E se as empresas investem e vendem menos, então reduzem os postos de trabalho. E é assim que o desemprego cresce.
Os indicadores disponíveis sobre o mercado de trabalho em Portugal já dão sinais desse aumento, reflectindo o abrandamento do crescimento que se operou ainda antes da crise financeira ter deflagrado nos Estados Unidos. Na semana passada, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) revelou um aumento de 16,4% do número de inscrições de desempregados nos centros de emprego em Setembro. É o mais alto crescimento registada no nono mês do ano desde, pelo menos 2004.
Agora, é a vez de se conhecer os dados sobre os pedidos de novos subsídios de desemprego, divulgados pelo Instituto de Informática da Segurança Social. Em Setembro, houve 19 920 requerimentos - dos quais, 5426 são relativos a subsídios sociais (para quem não descontou o tempo suficiente) -, o que representa uma subida de 20,6% face ao mesmo mês de 2007 e de 34,8% face ao mês anterior (este último aumento em cadeia deve ser desvalorizado pois Setembro regista sempre uma subida face ao mês do pico do Verão).
Para alisar estas variações sazonais, o melhor é comparar trimestres e aí a tendência é óbvia. No primeiro trimestre, a Segurança Social recebeu 51,7 mil pedidos de subsídio de desemprego, mais 21,8% do que no mesmo período de 2007. As variações homólogas no ano passado e 2006 foram ambas negativas (-11,1% e -1,4%) e só em 2005 é que houve, tal como este ano, um aumento no terceiro trimestre, mas mesmo assim muito inferior (3,1%).
Falta agora conhecer os números, relativos ao terceiro trimestre, do Instituto Nacional de Estatística, que divulga aquele que é considerado o indicador mais fiável sobre o desemprego em Portugal.
Entretanto, o Governo já começou a preparar o terreno para um agravamento do desemprego. Tanto o ministro do trabalho, como o próprio primeiro-ministro já vieram alertar, ambos em entrevista ao DN, que a meta da criação líquida de 150 mil empregos poderá estar comprometida com esta crise.