Bárbara Wong, in Jornal Público
Maria de Lurdes Rodrigues propõe "medidas mais eficazes" que envolvam Plano Nacional de Leitura, bibliotecas e formação de professores
A percentagem de retenções no 2.º ano de escolaridade causa "perplexidade" à ministra da Educação. Anualmente, sete por cento das crianças ficam retidas por ainda não saberem ler, escrever e contar. Os professores não podem esperar pelo final do 2.º ano, mas devem actuar logo no 1.º, assim que as dificuldades são detectadas, alerta Maria de Lurdes Rodrigues.
A ministra aproveitou a cerimónia de abertura da conferência internacional do Plano Nacional de Leitura (PNL), em Lisboa, para lançar o desafio de resolução deste problema aos docentes, mas também ao PNL, para combater este "problema que é central e exige mobilização".
Em 1996, 18 por cento das crianças ficavam retidas; o número caiu entretanto para 7,4 por cento. Maria de Lurdes Rodrigues admite que ainda não foram encontradas soluções para que essas sete mil crianças não fiquem retidas anualmente. Por isso, é necessário pensar "novas políticas e formas de intervir", que envolvam não só os professores, mas o PNL, as bibliotecas, a formação inicial e contínua dos docentes, através de estratégias pedagógicas multidisciplinares. Como é proibido reter as crianças no 1.º ano, "necessitamos de um trabalho diferenciador para ultrapassar este problema".
Para já, existe a iniciativa de dar um livro a todos os alunos do 1.º ano - em Setembro foram distribuídos 115 mil títulos - e a disponibilização do computador portátil Magalhães às crianças do 1.º ciclo. Duas medidas que a ministra considera que contribuem para esbater as desigualdades socioeconómicas à entrada da escolaridade obrigatória. Os livros e o computador são "os principais instrumentos de trabalho e de acesso ao conhecimento".
A ministra não faz o balanço do PNL, que vai no seu segundo ano de execução. No entanto, conclui "que os objectivos intermédios estão a ser superados". Afinal, "há mais leitores, mais leitura, mais livros, mais recursos, mais dinâmicas". Também o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, defende o alargamento do PNL a todos os locais onde se fale português e apela a que as bibliotecas e editores façam um esforço para digitalizar as obras.
Actualmente, todas as escolas do 1.º ao 3.º ciclo receberam financiamento para a compra de livros. O PNL tem recebido apoio de 154 autarquias, das fundações Calouste Gulbenkian e Aga Khan, e de várias empresas.