Céu Neves, in Diário de Notícias
Crise. Presidente da Gulbenkian diz que desemprego afectará as comunidades
ONG diz que regresso dependerá da integração e lembra obras públicas
O presidente da Fundação Calouste Gulbenkian acredita que o aumento do desemprego causado pela crise financeira vai "obrigar muitos dos imigrantes" a regressarem aos países de origem. Mas, para André Costa Jorge, director do Serviço Jesuíta aos Refugiados, o retorno vai depender "do grau de integração e da rede que a pessoa tem no país de acolhimento". Além de que, contrapõe, as obras públicas anunciadas poderão "reforçar a intenção de permanência".
"Esta crise [financeira] vai traduzir-se em mais limitações no acesso dos imigrantes. Com o desemprego, muitos vão ser obrigados a regressar aos países de origem", referiu à agência Lusa Emílio Rui Vilar, após a sessão de abertura da conferência "Podemos viver sem o outro? As pos- sibilidades e os limites da interculturalidade", ontem na Gulbenkian. Foi o exemplo que deu para argumentar que a crise "vai ter consequências na área social e cultural", bem como nas ajudas humanitárias, devido aos limites financeiros das organizações não governamentais (ONG).
O Serviço Jesuíta aos Refugiados (SJR) é, precisamente, uma ONG que trabalha com os imigrantes e que, através da UNIVA Imigrante, coloca as pessoas no mercado de trabalho. André Costa Jorge não sente uma diminuição na procura e oferta de emprego e diz que a imigração está estabilizada. "Há um decréscimo em relação a fluxos migratórios anteriores na chegada, mas não há um aumento das partidas." E acredita que a situação se irá manter, até porque a crise é global e terá maior incidência em África, América Latina e Europa de Leste, regiões de onde são naturais as pessoas que procuram Portugal para trabalhar.
"É evidente que haverá imigrantes económicos que irão regressar, mas isso não é novo", argumenta, acrescentando: "além disso, uma vez que o Governo diz que a crise não será motivo para o abrandamento das obras públicas, há novas perspectivas de emprego a médio prazo".
Apesar de adivinhar dificuldades nos apoios aos imigrantes, Emílio Rui Vilar garantiu que a Fundação vai manter os seus programas dirigidos aos imigrantes. E lembrou o retomar do programa de reconhecimento das habilitações de mais 150 médicos imigrantes, à semelhança do que fez no primeiro programa.
"O futuro do cosmopolitanismo", "A globalização e as novas questões religiosas" e "As Possibilidades nas artes" são os temas de hoje, último dia do seminário. com Lusa