Pedro Rios, in Jornal Público
Trabalhadores ficaram surpreendidos com afirmações do director do Centro Distrital do Porto da Segurança Social
Os trabalhadores despedidos da Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto (FDZHP) consideram "injustas" as críticas feitas pelo director do Centro Distrital do Porto da Segurança Social, Luís Cunha, ao trabalho da instituição. Este responsável disse ao PÚBLICO (edição de 19/10/08) que, até recentemente, desconhecia muitos dos casos pendentes de inquilinos da FDZHP que se encontravam em habitações muito degradadas. Atribuiu estas situações a "incúria ou negligência da fundação".
Em comunicado enviado ao PÚBLICO, os trabalhadores manifestam espanto perante estas afirmações. "Não fazem justiça ao trabalho desenvolvido pela FDZHP" durante 17 anos. "Há planos de realojamento [feitos pelos funcionários] desde 2002", exemplificou um dos funcionários, que não quis ser identificado. "Sempre tivemos o cuidado de alertar os responsáveis para o que se estava a passar e fornecer exemplos concretos (...). É também caso para perguntar: o que faziam na administração da FDZHP as pessoas nomeadas pela Segurança Social?", afirmam no comunicado.
As principais críticas dos funcionários vão para a Câmara do Porto, que acusam de, depois de 2002, se ter demitido "das suas responsabilidades" ao suspender o financiamento à fundação, "apesar de ter continuado a manter a maioria no seu conselho de administração". Através do seu gabinete de comunicação, a autarquia informou que não presta declarações sobre a FDZHP.
Os problemas na fundação resultam, "em parte significativa, de uma gestão pouco profissional e incompetente", com destaque para a administração de António Faria de Almeida (de 2003 a 2006), denunciam os funcionários. Contactado pelo PÚBLICO, Faria de Almeida não quis fazer comentários.
Os trabalhadores não aceitam o argumento da falta de auto-sustentabilidade financeira da FDZHP, invocado por Luís Cunha e pela presidente do actual conselho de administração. "Dezenas de milhares de contos que lá foram metidos obrigavam a que a fundação tivesse criado estruturas suficientes para se autonomizar e não viver de mão estendida à espera de subsídios", afirmou Luís Cunha. "Trabalhar com e para a população carenciada não costuma ser uma actividade lucrativa", respondem os funcionários, no comunicado.
Henrique Rodrigues, representante da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade no Conselho de Administração da FDZHP de 2001 a 2008, não responde às críticas (nem de Luís Cunha, nem dos trabalhadores), mas diz que foi um "erro" acabar com a fundação e que nunca houve vontade das instituições fundadoras (entre elas, a Segurança Social) de tornar a FDZHP financeiramente auto-sustentável.
Na nota enviada ao PÚBLICO, os trabalhadores consideram que a missão da fundação não se esgotou e que o seu trabalho não é inteiramente assegurado pelas instituições de solidariedade social do centro histórico. Apontam "lacunas" criadas pelo fim da entidade, nomeadamente o acompanhamento social das famílias inquilinas, a formação profissional, o trabalho com jovens e com mulheres e uma "visão de conjunto" que favorecia a "articulação de meios e de recursos".
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