23.10.08

Para mim, o Plano Nacional de Leitura é...

in Jornal Público

Oportuno e insuficiente
José António Calixto, director da Biblioteca Pública de Évora
"O PNL é necessário porque os hábitos de leitura e os níveis de literacia em Portugal devem deixar-nos a todos muito preocupados e deixar alguns um tanto envergonhados. E também porque a tecnologia não é tudo e sem literacia pode ser nada. É oportuno porque cada vez mais a elevação dos níveis de literacia é individualmente essencial para lidar com a complexidade da vida em sociedade, para a participação cívica e o aprofundamento da democracia. É insuficiente porque nunca investiremos suficientemente na promoção do livro, da leitura e das bibliotecas. E também porque a concorrência da anticultura (como o telelixo e o netlixo) é muito desleal."

Janelas e portas abertas
António Mota, escritor
Com 36 livros escolhidos pelo Plano Nacional de Leitura, António Mota diz ter vendido mais obras nestes dois anos: "Mas não fiquei rico, até voltei ao ensino. O PNL é uma casa com as janelas e as portas abertas. Deve continuar a apostar na diversidade, e depois as pessoas que escolham. Talvez faltem livros de teatro, para serem dramatizados pelos miúdos. Também é bom que todos os anos se renovem as listas e se escolham reedições de textos com novas ilustrações." Professor do 1.º ciclo, diz que só com o PNL se tornou possível trabalhar as obras com bastantes exemplares na sala de aula. "Agora consigo que haja pelo menos um livro para cada dois meninos. Também temos uma caixa cheia de livros à disposição das crianças, que os requisitam a toda a hora. Os meus alunos lêem muito."

Bom para a saúde
Rizério Salgado, médico
Ler + Dá Saúde é o resultado de uma proposta de Rizério Salgado, médico de família, ao Plano Nacional de Leitura. Os centros de saúde passaram a "receitar" livros para as crianças. "A partir dos seis meses de idade, apontar para uma imagem e associá-la a um som são factores de desenvolvimento. Os livros e a leitura estimulam todas as capacidades - motoras e cognitivas. Logo, dão saúde." Já prescreveu muitos livros nas suas consultas, no Centro de Saúde de Oeiras, Unidade de São Julião. "Depois da surpresa inicial, os pais aceitam com facilidade porque vêem justificada a escolha. Não lhes dizemos apenas 'Leiam', dizemos 'Leiam este tipo de livros, desta forma, para que o vosso filho desenvolva esta ou aquela capacidade'." O PNL "oficializou a certeza de que a leitura é transversal e conseguiu unir os ministérios da Cultura, Educação e Saúde". Conclusão: "Ler dá saúde e faz crescer."

"Não dei por nada"
Stephanie Pardete, mãe de um aluno do 3.º e de uma aluna do 10.º
"Numa casa de leitores, o 'bichinho' pega-se", diz Stephanie Pardete, para quem o PNL "é uma forma de sensibilizar e motivar para a leitura quem não vive num ambiente de livros". Acredita no entanto que esta prática pode acontecer "sem grandes custos". O plano não alterou o quotidiano da família, embora note que na escola do filho João, a frequentar o 3.º ano do ensino básico, as idas à biblioteca se tornaram mais frequentes. "Traz livros para ler em casa. Mas gosta tanto de um sobre automóveis que já o trouxe várias vezes. No caso da minha filha, Catarina, que anda no 10.º ano, não dei por nada relacionado com o plano, nem no ano passado nem neste."

Motivar para a leitura
Ana Josefa Cardoso, professora de Português do 2.º ciclo
"De certa forma, o Plano Nacional de Leitura resulta. Embora na nossa escola [EB, 2,3 de Vale da Amoreira] a biblioteca não esteja ainda lá muito apetrechada. Há muitas prateleiras vazias. Os livros do plano vão chegando, mas não são suficientes", diz Ana Josefa Cardoso, da Associação de Professores de Português. "O PNL é para motivar para a leitura. Os alunos requisitam mais livros, mas o resultado continua a depender muito do trabalho dos professores." Rita Pimenta