in OJE/Lusa
O Nobel da Paz Moahamad Yunus, economista e criador do microcrédito, considerou hoje que a actual crise financeira mundial está ainda no princípio e defendeu o microcrédito nas economias desenvolvidas como forma dos mais pobres enfrentarem a crise.
"Isto é ainda o princípio. Ainda vai demorar algum tempo até que [as economias globais] dêem a volta... ainda é muito cedo para ver a direcção em que as coisas vão e qual o impacto das ajudas dos governos aos bancos", disse Yunus, falando aos jornalistas no final de uma conferência em Lisboa sobre "Desafio da Pobreza: o Crescimento do Microcrédito", organizada pelo ISCTE.
Yunus, fundador do banco Grameen, no Bangladesh, afirmou também que a actual crise resulta dos "excessos e da ganância dos mais ricos" e alertou que quem sofre as consequências com mais força serão os mais pobres de todas as sociedades, quer sejam países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento.
"Quanto mais durar [a crise], mais tempo e com maior dureza os pobres vão sofrer. Porque os ricos só vão perder dinheiro, mas os pobres vão perder os meios de subsistência e é a sua sobrevivência que está em causa", afirmou o "banqueiro dos pobres", que recebeu o prémio Nobel da Paz em 2006, pelo papel do microcrédito e do banco Grameen na redução da pobreza extrema.
Alertando que os mais pobres são "o último alvo da crise", Yunus apelou para "ideias criativas" para suspender o galopar da crise, que comparou com um tsunami que é necessário parar antes que ganhe força e atinja com maior violência os mais pobres.
Moahamad Yunus disse ainda estar a estudar participar num projecto de microcrédito em Angola e destacou que esta forma de empréstimos - a pessoas a quem os bancos não dão crédito - tem também um papel importante nos países mais ricos.
"Os países desenvolvidos sempre precisaram [de microcrédito], porque muitas pessoas não têm entrada no sistema bancário", afirmou.
"Não tem que existir pobreza neste mundo. A pobreza é um produto do sistema e pode ser eliminada", concluiu Moahamad Yunus, no final da conferência.