26.11.08

Analfabetismo atinge 776 milhões de adultos

Eduarda Ferreira, in Jornal de Notícias

Escola básica ainda não chega a 75 milhões de crianças em todo o Mundo


A UNESCO indicou esta terça-feira que já não há esperança de atingir em 2015 as metas do Milénio para a escolaridade básica no mundo. Culpas: escasso empenho dos governos de países pobres e falta de ajudas dos países mais ricos.

As desigualdades no acesso à educação entre países ricos e os países em desenvolvimento não estão a atenuar-se ao ritmo desejável, segundo um relatório ontem divulgado pela agência das Nações Unidas para a educação e cultura. O documento da UNESCO, baseado em estatísticas de 2006, indica que há 75 milhões de crianças sem acesso sequer ao ensino básico. Traduzido para a realidade dos países em desenvolvimento, este cenário significa que uma em cada oito crianças não chega a frequentar qualquer grau de escolaridade.

Os ganhos têm sido poucos e a UNESCO já admite ser impossível que ,daqui a pouco mais de seis anos, o mundo alcance um dos Objectivos do Milénio, a educação básica para todos. A nova projecção aponta para que em 2015 cerca de 29 milhões de crianças ainda estejam arrredadas da escola.

A falta de perspectivas para tão elevado número de crianças reflecte grandes disparidades mundiais: nos países ricos, uma em cada três crianças acaba por fazer um curso universitário, enquanto na África negra só 5% chegam à universidade. As crianças inglesas ou francesas, por exemplo, têm mais oportunidades de entrar num curso superior do que as crianças do Níger ou do Senegal têm de completar o básico. Um outro dado que relaciona a frequência escolar e a saúde indica que 193 milhões de crianças dos países pobres (uma em cada três) chegam ao ensino básico com problemas de desenvolvimento mental devido a alimentação demasiado precária. No Sul da Ásia isto afecta 40% das crianças.

Apesar deste cenário, registaram-se algumas melhorias na frequência da escolaridade básica em países como a Tanzânia e a Etiópia. No Nepal e no Bangladesh tornou-se mais paritário o acesso à escola por parte de meninas e meninos. Ainda assim, a desigualdade de géneros continua acentuada nos países árabes, onde 61% das raparigas não frequentam a escola. Essa percentagem sobe para 95 no caso do Egipto.

Koichiro Matsuura, que preside à UNESCO, disse ontem, na apresentação do relatório que as desigualdades não se expressam apenas entre países e grupos de países, mas também dentro de cada um, sobretudo nos menos desenvolvidos. Os filhos de famílias sem posses do Mali, Etiópia e Níger têm três vezes menos hipóteses de acabar o ensino básico do que os mais ricos. No alerta deMatsuura é lembrado que a desigualdade de oportunidades na educação potencia a pobreza, a fome e a mortalidade infantil e reduz as possibilidades de crescimento económico. Por isso, os governos têm de agir com grande sentido de urgência", disse.

Às dificuldades de cobertura escolar para os mais jovens junta-se o passivo da iliteracia dos adultos. Há 16% da população mundial que é analfabeta (o que corresponde a 776 milhões de pessoas, dois terços das quais são mulheres). Ao ritmo lento a que se está avançando, em 2015 ainda haverá 700 milhões de analfabetos.

Apesar de tudo, foram registados progressos no ensino secundário, sobretudo em países da América Latina, ainda que haja que ter em conta taxas elevadas de abandono escolar. A UNESCO chama a atenção para que a expansão do ensino privado para colmatar falhas do público não deva pôr em causa o acesso à educação básica.