27.11.08

Novos alcoólicos têm menos de 30 anos e consomem drogas

Carla Aguiar, in Diário de Notícias

Dependências. Psiquiatras alertam para risco de problemas mentais associados

Bebibas muito graduadas e drogas podem provocar psicoses entre os jovens


Os novos alcoólicos são cada vez mais jovens, com idades entre os 20 e os 30 anos, bebem bebidas brancas altamente graduadas, consomem drogas e pertencem a estratos sociais diversificados. Este é o novo retrato do alcoólico, ontem traçado no IV Congresso Nacional da Psiquiatria, no Luso,que abordou o tema das dependências e, em particular, o aumento do consumo entre os jovens.

"Nas consultas aparecem-nos em idades muito jovens, abaixo dos 30 anos, tendo na sua maioria começado a beber entre os 15 e os 16 anos em situações de convívio com o grupo", disse ao DN a psiquiatra Célia Franco. Aquela clínica do Centro Hospitalar de Psiquiatria de Coimbra não hesita em afirmar que estamos perante uma ruptura no padrão do alcoolismo. "Há mais de dez anos o paciente que nos procurava tinha entre 40 e 50 anos, com um histórico de consumo de vinho ou cerveja ao longo do dia e que entretanto foi adoecendo, sobretudo na parte física, com problemas gástricos". Hoje, continua a médica, "aquele alcoólico tradicional deu lugar a um outro, que se caracteriza por consumir bebidas altamente graduadas, em doses altíssimas, associado a perturbações mentais graves".

Por outro lado, o problema do alcoolismo entre os jovens é também marcado pelo policonsumo, ou seja, a par da bebida está o consumo de drogas como o haxixe, pastilhas ou cocaína, explicou. "A própria bebida tem, para estes jovens, o objectivo de obter um estado alterado de consciência, como se se tratasse de consumir uma droga lícita".

Não é, por isso, de estranhar que uma parte importante destes alcoólicos dependentes apresentem perturbações mentais. "O álcool altera o funcionamento a nível neurológico e pode resultar em psicoses e comportamentos desadequados, sobretudo quando o consumo é iniciado numa idade muit precoce, por volta dos 14 anos, quando ainda não têm a personalidade bem definida nem a vida estruturada". Segundo Célia Franco, é frequente estes pacientes experimentarem alucinações e episódios de grande agressividade e violência, dos quais depois não guardam memória.

Ainda de acordo com aquela psisquiatra, que foi oradora no congresso, a situação em Portugal é particular, na medida em que somos um país que, como produtor de bebidas alcoólicas, é muito permissivo em relação ao seu consumo.

Apesar da recente integração do tratamento do alcoolismo nos centros ligados à toxicodependência - porque as dependências estão muitas vezes interligadas -, o sistema público de saúde ainda não está suficientemente adaptado à realidade dos jovens alcoólicos. Em primeiro lugar, porque faltam estudos actuais a caracterizar melhor o fenómeno em Portugal, diz Célia Franco. Os últimos dados datam da década de 90.