C.M.A., in Jornal de Notícias
Como é que vai ser decidido o esforço entre os estados-membros para o pacote de relançamento económico?
Depois do apoio do Conselho Europeu, espero, o ECOFIN e o Eurogrupo vão decidir quais serão os diferentes contributos nacionais.
O que propusemos é um valor aproximado e não fixo, que não é uma média. Não estamos a dizer que todos os países têm de fazer o mesmo esforço. Há realidades nacionais muito diferentes. São valores indicativos que serão atingidos através da coordenação dos estímulos fiscais e pela contribuição dos fundos comunitários.
Os países vão sugerir a montante com que querem contribuir?
Vai haver um debate colectivo sobre as possibilidades nacionais e no final julgo que haverá um acordo.
Mas há países melhor posicionados que estarão pressionados a investir mais?
É um erro de análise achar que um país que investe mais paga mais. Acho que é uma situação proveitosa em todos os sentidos. Estamos tão interligados na Europa que é do interesse para um país que exporte para os outros estados-membros fazer um esforço, porque também está a melhor as condições à volta. Não estamos a pedir a um país que pague pelos outros.
Enumerou uma lista de áreas nas quais gostaria que os fundos fossem utilizados. Há espaço para outras áreas, como o caso dos têxteis em Portugal?
Os "sectores tradicionais" como os têxteis ou calçado podem beneficiar muito destes fundos. O que queremos é que a indústria se adapte às novas tecnologias de baixo carbono, tal como noutras áreas, o mesmo para o sector automóvel e a construção. Queremos que se renovem. No caso de Portugal, mas não só, vamos adiantar os fundos estruturais e o social e propomos que a maior quantidade seja gasta entre 2009 e 2010 para haver uma resposta rápida às necessidades mais urgentes. Recebemos vários relatos de várias de empresas, PME, que diziam que iam fechar se não recebessem novos contratos no futuro próximo. A situação é dramática. É por isso que queremos promover o investimento público para ver pelos menos se conseguem sobreviver a este período.
Quando espera que os países anunciem as suas medidas?
Agora. Nos orçamentos para 2009.
Como é que assegura que o dinheiro está a ser bem aplicado?
Através da coordenação, do que chamamos a estratégia para o crescimento e emprego. Todos os países têm que apresentar o programa nacional e tem que haver acordo sobre as propostas individuais. Mas também através dos programas de estabilização e convergência que os países têm que apresentar.
Os países vão poder atingir o limite de 3% do PEC sem serem imediatamente autuados. Portugal é um dos países nessa iminência. Não há o risco de estar a criar-se um problema económico?
Se pusermos em questão o PEC estamos a prestar um mau serviço à Europa porque não podemos ter uma moeda credível sem um PEC forte. Mas estamos a viver circunstâncias excepcionais. É a primeira crise financeira da era da globalização e aconteceu no centro do sistema financeiro. Há muito pouco tempo estávamos numa situação muito perigosa, podíamos ter visto o sistema financeiro europeu ruir e evitámo-lo, eu acho. Evitámos uma situação como a do Lemon Brothers na Europa. Não estamos a dizer que vamos suspender o PEC mas, por causa das circunstâncias, em 2009, alguns países vão ultrapassar o limite dos 3%. Mas estes países terão que nos apresentar um plano da sustentabilidade das suas finanças onde incluem já as reformas estruturais. Se há um risco? Claro que há, mas acho que temos os meios para evitar as consequências negativas.