Fátima Mariano*, in Jornal de Notícias
Exclusão social e educação estão no centro das principais preocupações do presidente da República
O presidente da República destacou, esta terça-feira o trabalho das misericórdias no que se refere a "uma certa pobreza envergonhada" que existe no país, sublinhando que quem antes ajudava agora precisa de ajuda.
Cavaco Silva falava durante a cerimónia de inauguração da nova sede da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), em Lisboa. O chefe de Estado referiu que estão a surgir novas formas de pobreza e de exclusão social, fruto dos maiores riscos de desemprego que existem e das dificuldades de pagamento dos empréstimos para comprar casa que muitas famílias enfrentam.
Para Cavaco Silva, estamos a assistir ao "desenvolvimento de novas formas de pobreza, como uma pobreza envergonhada", que afecta pessoas que procuram esconder a cara no momento em que procuram ajudam. Ao presidente têm chegado, por exemplo, testemunhos de pessoas que eram voluntárias em instituições de solidariedade social e "procuravam ajudar os outros e hoje estão numa situação para procurar apoio para elas próprias".
Também o presidente da UMP, Manuel Lemos, sublinhou que os pedidos de ajuda às Misericórdias têm aumentado nos últimos meses. "A par de maior pressão para acolhermos idosos nos lares, famílias recolhem os seus idosos desses mesmos lares por considerarem que a sua escassa pensão pode contribuir para equilibrar o orçamento familiar", notou. As Misericórdias também têm recebido solicitações de "compreensão" por parte de pais que não conseguem pagar as creches e jardins-de-infância, acrescentou.
Em seguida, o presidente da República marcou presença no segundo almoço anual da EPIS (Empresários para a Inclusão Social), que juntou empresários dos mais diversos ramos e algumas membros do Governo.
Depois de elogiar a Associação de Empresários para a Inclusão Social, considerando que "tem contribuído para abrir caminhos na mobilização de outros agentes para o combate ao abandono e exclusão social", designadamente no terceiro ciclo do básico, o Presidente da República destacou a importância do papel dos mediadores e da família.
"Mesmo nestes tempos difíceis, para os empresários e não só, há investimentos que têm de continuar a ser feitos e até reforçados. Um deles é claramente o investimento na educação", apontou, tendo a ouvi-lo o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos. Cavaco Silva voltou a insistir na meta do 12.º ano como escolaridade mínima e destacou a importância das famílias e da sociedade civil em geral no combate ao abandono escolar e à exclusão social.
"Os chamados mediadores são pessoas que estão em contacto com a escola, a família e que tentam impedir os comportamentos desviantes dos jovens. Cada vez que um revela insucesso nos estudos ou dá indícios de se encaminhar para a delinquência, droga, ou marginalidade, aí está o mediador, junto da família", sublinhou o chefe de Estado. Neste contexto, Cavaco Silva frisou que "a família tem um papel fundamental, sendo mesmo decisiva para que os jovens não abandonem a escola e tenham sucesso".
* COM LUSA