26.11.08

Crise chega às misericórdias com os pais a não conseguirem pagar as creches dos filhos

Cláudia Lomba, in Jornal Público

Às pessoas que já se encontravam em dificuldades, juntam-se as que não se viam a pedir ajuda. Cavaco Silva fala em "pobreza envergonhada"


Há cada vez mais pais com dificuldades para pagar as creches e jardins-de-infância dos filhos. O alerta foi feito ontem pelo presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, na inauguração da nova sede das instituições, em Lisboa. Manuel Lemos garantiu ao PÚBLICO que o número de pedidos de ajuda por parte dos pais "não é alarmante", mas "é mais um sintoma que reflecte as dificuldades" que os portugueses estão a passar. As misericórdias que reportaram a existência destas situações estão, sobretudo, em zonas suburbanas, afirmou o presidente.

Recentemente, Manuel Lemos chamou a atenção para o crescente número de famílias que estão a retirar os idosos dos lares para poderem aproveitar as suas reformas. Uma situação "preocupante" que leva as misericórdias a colocarem questões relacionadas com o tratamento dos idosos que saem das instituições. "Será que as famílias que nos vieram pedir para colocar lá os seus parentes, agora, de repente, têm condições para assegurar o seu bem-estar? São questões que nos preocupam", admitiu Manuel Lemos.
O presidente da UMP voltou a referir o número de pedidos de ajuda, via e-mail, cada vez mais recorrente, por parte não só dos que já dela necessitavam, mas também por parte de pessoas que "há uns meses não se viam em situações de tanta dificuldade".

"Pobreza envergonhada"

O Presidente da República, Cavaco Silva, também presente na cerimónia de inauguração, chamou a atenção para o novo tipo de pedidos de apoio, por parte de pessoas que "procuram esconder a cara no momento em que procuram ajuda". Para o presidente, esta "pobreza envergonhada" tem origem no "desenvolvimento de novas formas de pobreza", que surge sobretudo por parte de pessoas que "não pensavam vir a precisar de ajuda", ou eram "voluntárias em instituições de solidariedade social e procuravam ajudar os outros, e hoje estão numa situação para procurar apoio para elas próprias". Cavaco Silva sublinhou a importância das misericórdias neste contexto, já que "os que trabalham nas instituições conhecem melhor do que ninguém" estas realidades.

Cavaco Silva deixou uma palavra de reconhecimento "pelo trabalho das misericórdias" e congratulou-se com a colaboração entre estas instituições e os poderes públicos, algo que tem de continuar. "É preciso trabalhar em rede e fortalecer a ligação das instituições de solidariedade social com os ministérios apropriados."