19.11.08

Banco de Portugal traça cenário económico negro

Ana Paula Lima, in Jornal de Notícias

Queda do investimento e das exportações ditam revisão em baixa do PIB para este ano


As previsões para a economia nacional são cada vez mais pessimistas. Desta vez, foi o Banco de Portugal a cortar nas suas estimativas para 2008. O PIB deverá crescer somente 0,5%, uma previsão inferior à do Governo.

No Boletim Económico de Outono, divulgado ontem, o BdP revê em baixa as estimativas avançadas no Verão, e prevê um crescimento do Produto Interno Bruto de 0,5%, menos 0,7 pontos percentuais do que os 1,2% previstos no Boletim anterior. A estimativa do BdP é igual à da Comissão Europeia, mas menor que a do Governo, apresentada no Orçamento de Estado para 2009, que aponta para um crescimento de 0,8%.

Para a instituição liderada por Vítor Constâncio, a principal causa da quebra são as exportações e o investimento, que o banco considera serem as "componentes da procura mais sensíveis à crescente deterioração do enquadramento externo".

O relatório defende que, no capítulo do investimento, se deverá assistir à interrupção da "trajectória positiva observada em 2007", e que este indicador deverá cair 0,8%, depois de no ano anterior ter crescido 3,2%.

No caso das exportações, o BdP acredita que o país está a perder quota no mercado internacional num cenário de "desaceleração da procura externa". As exportações de bens vão manter-se em queda, que já se regista desde meados de 2007, enquanto as exportações de serviços vão acentuar o movimento de desaceleração que começou no início de 2008. Globalmente, as exportações vão crescer apenas 1,4%, bastante abaixo dos 4,4% de crescimento avançado pelo banco no Verão.

O consumo privado é um dos indicadores que evoluem favoravelmente face às estimativas anteriores do BdP, devendo crescer 1,4%, face à previsão anterior de 1,3%. As estimativas do BdP para Portugal têm como base a situação financeira internacional que está a afectar todas as economias.

"A actividade económica mundial tem sido assim sujeita nos últimos anos a perturbações significativas de vária ordem interligadas, sendo de destacar a evolução dos preços de petróleo e dos bens alimentares, a correcção em baixa nos mercados de habitação e principalmente a crise financeira iniciada em meados de 2007", adianta o BdP.

Mais optimista é a previsão para a inflação que se deverá situar nos 2,8%, abaixo dos 3% do Boletim de Verão, mais próxima da previsão de 2,9% do Governo, mas, mais alta que os 2,4% registados em 2007. A nova projecção da taxa de inflação reflecte "em particular a evolução dos preços dos bens energéticos nos meses mais recentes", explica o relatório.

O cenário de desaceleração e de agravamento do impacto da crise financeira sobre a nossa economia leva, ainda, o BdP a apontar para uma diminuição da concessão de empréstimos às empresas e às famílias e um aumento do crédito malparado.

"Mesmo admitindo que as medidas tomadas pelas autoridades permitirão regularizar rapidamente a actividade dos mercados financeiros internacionais, é previsível uma desaceleração adicional do crédito, bem como um incremento dos rácios de incumprimento", sobretudo nas famílias com rendimentos mais baixos e mais jovens, refere o banco.