26.11.08

"Já fui rico e agora como na sopa dos pobres"

Joaquim Forte, in Jornal de Notícias

Trabalhou 35 anos nas obras. Teve um acidente, ficou sem emprego e não tem subsídio


Sem trabalho, sem subsídio de desemprego, longe da reforma e doente: o drama de Tibúrcio Pinto Neto, 53 anos. Lamenta a falta de sorte, mas principalmente a sociedade que serviu e que não prevê infortúnios.

A vida de Tibúrcio Pinto Neto dava um filme. Um drama recheado de infortúnios vários, com ascensão e queda. Aos 53 anos, e com 35 de descontos para a Segurança Social, está desempregado, sem direito a subsídio de desemprego, com problemas de saúde e longe da reforma.

"Já fui um homem rico, tive bons carros, mas hoje vou comer à sopa dos pobres e vivo do que me dão", diz Tibúrcio, para logo a seguir desfiar as contas do seu rosário. "Sempre trabalhei na minha vida. Em Portugal, Espanha e Alemanha. A última vez, há dois anos, foi em Espanha, nas obras, para um patrão português. Perdi parte de um dedo num acidente de trabalho e parei. Descobri, depois, que não tinha seguro, que não havia descontos para a Segurança Social, e por isso, cá estou, sem nada, depois de 35 anos de trabalho".

Natural de Paços de Ferreira, Tibúrcio, divorciado, acabou por ir para Guimarães por causa de um anúncio sentimental que colocou nos jornais. Cavalheiro bem posto procura senhora para relacionamento sério. "Apareceram três mulheres, gostei duma de Guimarães e vim para cá viver em casa dela. Só que agora, ao fim de dois anos sem trabalho e sem receber nada, as coisas estão a correr mal e ela, claro, não me pode sustentar. Vou ter de procurar outra solução. Até já tentei arranjar uma casa social junto da Câmara, mas dizem que há muita gente à minha frente", conta, resignado.

Tibúrcio diz que já correu tudo que é entidade a dar conta dos seus infortúnios. Câmara Municipal de Guimarães, provedor de Justiça, Parlamento Europeu, presidente da República, partidos com assento parlamentar… Nalguns casos, com cartas e mais cartas, registadas e com aviso de recepção, como mandam as regras. Mas sem efeito. "Não recebo nada. Já tentei tudo para ter um apoio social. Há subsídios para tudo e para nada, mas eu não consigo nenhum. Não consigo trabalhar. Tenho uma hérnia que me afecta o pescoço, o braço direito está paralisado e já fui operado várias vezes a uma apêndice aguda e estive para morrer", conta Pinto Neto.

Sem rendimentos, este homem diz que vive de ajudas. "Passo pela vergonha de pedir, eu que já tive bons carros!", nota o homem. O que vale, prossegue, é a sopa dos pobres, no Lar de Santo António, onde almoça todos os dias por 50 cêntimos.

Diz que não tem condições para trabalhar, mas na junta médica a que se submeteu, na Segurança Social, foi dado como apto para o trabalho. "Levei um relatório do meu médico que diz que eu não tenho condições para trabalhar, mas foi-me recusada. Tenho um braço paralisado, líquido nos pulmões, fui operado à barriga, mas nada. E não tenho fundo de desemprego porque o meu último patrão não fez descontos. Não tenho condições de saúde para trabalhar e com esta idade quem é que me arranja trabalho?".