26.11.08

Desemprego pode atingir valor mais alto desde 1986

João Paulo Madeira, in Jornal de Notícias

OCDE é mais pessimista do que Governo e põe o PIB português a crescer -0,2% no próximo ano


A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico antecipa que a economia portuguesa recue 0,2%, no próximo ano, e que o desemprego atinja 8,8% no seguinte. Seria o valor mais alto desde 1986.

As previsões da OCDE, divulgadas ontem, são mais pessimistas do que as do Governo, do Fundo Monetário Internacional e da Comissão Europeia. A organização antecipa que a actividade económica em Portugal retroceda até à segunda metade de 2009, com a queda do investimento e das exportações, e que recupere "lentamente" em 2010.

As estimativas apontam para um crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) português, este ano, e para uma contracção de 0,2%, no próximo. Para a Zona Euro, a OCDE projecta um crescimento negativo de 0,6%, em 2009, com a economia alemã a cair 0,8%, a francesa a deslizar 0,4% e a espanhola a recuar 0,9%. Apesar de Portugal ter uma recessão menor do que os principais parceiros europeus, não recuperará de forma tão rápida. Em 2010, será o país da Zona Euro com menor crescimento. O PIB nacional crescerá 0,6%, contra 1,2% na Zona Euro e na Alemanha, 1,5% em França e 0,8% em Espanha.

A fraca expansão da economia terá reflexos no mercado laboral. A OCDE indica que a taxa de desemprego deverá subir de 7,6%, este ano, para 8,5%, em 2009. Em 2010, deverá aumentar para 8,8%, um valor que já não se regista em Portugal desde 1986, segundo dados do Eurostat. A organização teme que, até 2010, haja mais oito milhões de desempregados nos países da OCDE, atingindo-se naquele ano um total de 42 milhões de pessoas desempregadas. Já as taxas de juro e a inflação na Zona Euro tenderão a descer nos próximos dois anos, com reflexos nos preços em Portugal (1,3% de inflação no país, em 2009).

A OCDE assume ainda que o défice público fique acima da projecção do Governo, atingindo 2,9% no próximo ano e 3,1% em 2010. "A situação orçamental deverá deteriorar-se em 2009 e 2010, à medida que as condições económicas mais fracas reduzam o crescimento da receita", refere a organização.

A OCDE aponta para a necessidade de aprofundar a consolidação orçamental e de reformas estruturais a médio prazo, para fortalecer o desempenho económico" em Portugal. Recomenda ainda uma "maior eficiência no sector público" e um ambiente de negócios "mais favorável", de modo a aumentar a confiança do sector privado e o crescimento.